Mais de centena e meia de pessoas, a maioria pertencente aos quatro jornais da Controlinveste, manifestaram-se hoje em frente ao edifício do Jornal de Notícias, no Porto, em protesto contra os 119 despedimentos anunciados pelo grupo.
Entre os manifestantes encontram-se boa parte dos despedidos, mas também muitos trabalhadores não abrangidos pela medida - jornalistas e não jornalistas - pertencentes aos quadros dos quatro jornais do grupo, que inclui o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias, o 24 Horas e o diário desportivo O Jogo.
Alfredo Mendes, jornalista da redacção do Porto do Diário de Notícias, 53 anos e 30 de casa, disse à Lusa que, depois de todos estes anos de dedicação foi despedido "em menos de dois minutos".
Com a mulher desempregada e dois filhos a cargo - uma com 17 anos, a ponto de entrar para a Universidade e um rapaz de 13 anos - Alfredo Mendes vê “o futuro da família com desespero”.
A indemnização que a empresa lhe propõe - 44.666 euros - foi calculada tendo em conta apenas o seu ordenado base e não todos os complementos de ordenado que auferia.
"Foi um processo iníquo de despedimento apoiado numa avaliação falsa e vigarista que na realidade não existiu", afirmou.
César Príncipe, 66 anos, reformado há oito anos do Jornal de Notícias - no qual trabalhou durante quatro décadas - compareceu em solidariedade com os seus companheiros de trabalho.
Este veterano do jornalismo portuense está na base do Manifesto dos 119, documento que acusa a Controlinveste de pretender que sejam os trabalhadores a pagar “um conjunto de más decisões” tomadas pela Direcção do JN, cobertas pelas administrações do jornal e do grupo.
"O que aqui estamos a assistir é a uma verdadeira matança dos inocentes", afirmou.
César Príncipe frisou que "se o JN perdeu a liderança do mercado, de que desfrutou durante tantos anos, para o Correio da Manhã, a culpa é da actual Direcção que descaracterizou o jornal, ao retirar-lhe o seu cunho regionalista", defendeu.
"Há oito anos, quando me reformei, escrevi à Direcção do jornal a avisar que isso seria fatal para o JN, não me quiseram ouvir. Infelizmente tinha razão", afirmou.
Considerou ainda que "com a descaracterização do JN, o Porto perde o último dos três grandes diários que teve desde o século XIX e ao longo de todo o século XX".
Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas, não arriscou ainda fazer um balanço da greve.
"Mas a impressão é positiva, pela adesão que aqui podemos testemunhar", afirmou o sindicalista, remetendo o balanço para o final da tarde.
À porta das instalações do Diário de Notícias, Jornal de Notícias, 24 Horas e O Jogo, em Lisboa e no Porto, está a ser distribuído pelos grevistas um panfleto que apela à solidariedade popular com esta acção de luta.
Entretanto, a eurodeputada Ilda Figueiredo (PCP) anunciou hoje, em comunicado que fez chegar aos manifestantes, que vai apresentar no Parlamento Europeu uma pergunta parlamentar em que solicita "medidas para apoiar e defender os direitos dos trabalhadores da Controlinveste, tendo em conta também a necessidade de garantir o pluralismo na comunicação social".
A eurodeputada sublinha que os 119 trabalhadores que a Controlinveste vai despedir representam cerca de 12 por cento dos efectivos do grupo.
Ilda Figueiredo pretende também que os órgãos da União Europeia informem sobre quais os apoios comunitários concedidos a este grupo e em que condições foram atribuídos.
Sem comentários:
Enviar um comentário