quarta-feira, março 04, 2009

150 estiveram lá. Os outros?
- Esses estarão lá em breve!

Tal como previsto, eu também estive lá. Eu e muitos outros. Faltaram, como era previsível, todos aqueles que se fecharam no pequeno tacho que ainda têm. Agradaram, obviamente, aos capatazes.

Embora tenham metido o rabinho entre as pernas e com ar dócil tenham dito umas dezenas de améns, podem ficar descansados que quando estiveram na mesma situação dos que, hoje, mostraram ter o que os outros não têm (coluna vertebral), nós estaremos lá a dar apoio e solidariedade.

Quem labuta nesta profissão com ética e liberdade sabe bem que ela está cheia de escumalha, escória, ralé e por aí fora, sobretudo a nível dos que têm o poder e dos que, na esperança de um prato de lentilhas, aceitam ser capachos (“pessoa que se curva servilmente perante aqueles de quem depende").

Sei desde há muito, mas sobretudo desde a altura em que mercenários tomaram conta quer da profissão quer dos jornais que transformaram em linhas de enchimento, que os verdadeiros jornalistas têm a sobrevivência no fio de uma navalha que é manipulada por sipaios acéfalos que tudo fazem para agradar aos chefes do posto.

E porque, naturalmente, todos queremos sobreviver e ter uma vida digna, a quase todos os que ainda têm coluna vertebral resta deixá-la em casa e integrar as linhas de montagem onde coabitam quer jornalistas quer autómatos.

Eu sabia que eram poucos os que têm coluna vertebral e que sabem que só é derrotado quem deixa de lutar. Mas enganei-me. Pelos vistos já não sou poucos... são menos ainda.

Um dia destes, voltarei a dizer que estive lá para dar apoio e solidariedade aos que agora se estiveram nas tintas em relação a 119 colegas.

Mas, será que estarei? É que a paciência para aturar cobardes tem limites. Mas pode ser. Ainda acredito que por lá haverá três ou quatro recuperáveis.

Foto: Paulo Pimenta/Público

1 comentário:

ELCAlmeida disse...

Apesar de haver quem ache que está num país das maravilhas onde a tecnologia é o "mááááximo" e ter sido ele a evitar uma maior crise mundial, quem vive o dia-a-dia sabe que tem emprego hoje mas não sabe se amanhã quando acordar o emprego ainda existe.
E por via disso há quem prefira não "falar" e há quem queira acenar com o desemprego.
eu, por mim e só falo por mim, não lhes chamo cobardes. unicamente salvaguadas da vida dos familiares, nomeadamente, se esses são pequenos e não foram consultados quando nasceram para a vida e com a vida que os mais crescidos - alguns - andam a brincar...
Abraços
Eugénio Almeida