Embora exista (ainda bem) a presunção de inocência, é um facto que a todos, mas sobretudo aos que dirigem o país, não basta ser sério. Além disso, somando os casos mais recentes (Freeport, Portucale, BPN, BCP, BPP etc.), verifica-se que existe uma classe (mistura de políticos com gestores e financeiros) que é dona do país.
Pelos exemplos recentes, num país que quer (ou é obrigado) a levar ao extremo a máxima dos brandos costumes, quase se pode concluir que Portugal se transformou apenas num local muito mal frequentado, com múltiplos canais que abastecem um perigoso e gangrenado submundo.
Pelos exemplos recentes, num país que quer (ou é obrigado) a levar ao extremo a máxima dos brandos costumes, quase se pode concluir que Portugal se transformou apenas num local muito mal frequentado, com múltiplos canais que abastecem um perigoso e gangrenado submundo.
Aliás, bastam alguns tópicos para se concluir que as diferenças entre Portugal e o Burkina Faso são poucas. As "off-shores" e o endeusamento do segredo bancário são, pelo menos para mim, um instrumento que alguns dispõem para cometer crimes e passarem ao lado da justiça.
Os mais recentes casos, mesmo que o primeiro-ministro os rotule de "campanha negra", mostram tanta promiscuidade entre o dinheiro e a política que não é difícil concluir que Portugal teima em viver com pelo menos um pé do outro lado da legalidade democrática e das regras de um Estado de Direito.
É por isso que os actores deste drama, sobretudo políticos e financeiros, se apresentam (e assim é na realidade) como uma elite que defende apenas os seus interesses, que em vez de servir o país se serve dele.
Paradigma de tudo isto, mau grado aparecerem na ribalta sonantes nomes da política e das finanças, é o facto de quase 100% das pessoas que estão nas cadeias portuguesas serem pobres.
Não é bem assim? Ai não, não é. Recordam-se de uma mulher que furtou um pó de arroz num supermercado? Foi detida e julgada. No entanto, roubar(desviar, afanar, furtar) centenas de milhões de euros de um banco poderá, ou não, ser crime.
É claro que do ponto de vista académico, como diz o Procurador-Geral da República, "ninguém está acima da lei". Se calhar não é bem assim. Até porque o pilha-galinhas não é Conselheiro de Estado nem primeiro-ministro e, por isso, não tem a imunidade que lhe garanta a impunidade.
É por tudo isto que a corrupção vai somando crescentes pontos em Portugal. Creio que a mais grave por ser mortal para o país é "a corrupção política", a que (vejam-se os casos Freeport ou Portucale) envolve as grandes empreitadas do Estado ou a compra de muitos milhões de euros em equipamentos.
Será então culpa do sistema judicial? Não. Desde logo porque o sistema judicial (também) é amamentado pelo seu congénere político, e este é o que põe e dispõe.
Creio, contudo, que Portugal ainda pode ter cura. No entanto, se demorar muito a ser ministrada a necessária medicação radical, um dia destes chegaremos à conclusão que na altura em que Portugal estava quase a saber viver como um país digno... morreu.
Nota: Artigo inicialmente publicado no Café Luso.
Nota: Artigo inicialmente publicado no Café Luso.
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