O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, bem como o secretário-executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Domingos Simões Pereira, não deveriam omitir o que pensam ser a verdade no que à Guiné-Bissau respeita.
Dando de barato que Angola está a usurpar o papel e o protagonismo que deveria ser da CPLP (ou será que Luanda pensa como eu e também acha que a CPLP não existe?), é relevante que aqueles dois políticos, ainda para mais sendo um deles guineense, deveriam dizer o que sabem sobre os assassinatos de “Nino” Vieira e Tagmé Na Waié.
A Guiné-Bissau merece respeito e, por isso, deve saber o que se passou com estas mortes. Ou será que, mais uma vez, a culpa vai morrer solteira, tornando-se uma regra num país em que os dirigentes são assassinados e ninguém é culpado?
Mais do que tapar o sol com uma peneira ao fazer finca-pé na realização de eleições presidenciais, como se eleições fossem só por si sinónimo de democracia, Gomes Cravinho e Simões Pereira deveriam dizer publicamente tudo o que lhes foi contado em Bissau.
Só a verdade, ou o que dela estiver mais próximo, pode ajudar a Guiné-Bissau a enfrentar os seus mais graves problemas, sejam eles relativos aos senhores (políticos e militares) do narcotráfico ou, ainda, aos que de fora e sob a capa de amigos equidistantes (caso de Angola) estão já a marcar território e a olhar não para as veias dos guineenses mas para os veios petrolíferos.
E ao não revelarem o que pensam ser a verdade, Gomes Cravinho e Simões Pereira estão não só a abrir portas a todo o género de especulações como a dar a entender que, como nos muitos assassinatos anteriores, há na Guiné-Bissau uma total impunidade.
Será que Portugal e a CPLP têm medo de alguma coisa? Será que acreditam que uma mentira viva é melhor do que uma verdade póstuma? Será que temem que a verdade faça implodir o país? Será que, por alguma razão, uma eventual implosão poderá atingir alguns políticos portugueses ou de outros países da CPLP?
Continuo a pensar que os guineenses preferem ser salvos pela verdade, por muito dura que ela seja, do que assassinados pela mentira, por muito adornada e celestial que ela seja.
Pena é que, num sistema lusófono em que a aparência vale muitos mais do que a realidade, se continue a instituir o primado da impunidade e da imunidade baseado na mentira.
Sem comentários:
Enviar um comentário