sábado, dezembro 26, 2009

Cantando e rindo com a chipala do povo
(eles comem tudo e não deixam nada...)

Os 16 principais accionistas nacionais da bolsa portuguesa acabam 2009 com ganhos superiores a cinco mil milhões de euros - a conta certa dá 5,3 mil milhões de euros - em relação à valorização das respectivas participações no final de 2008.

Isto quer dizer que, também nas ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marroco, poucos continuam a ter muitos milhões e, pois claro!, alguns milhões têm pouco e cada vez menos.

Se olharmos, cito o jornal “I”, apenas para os dez patrimónios mais valiosos, a valorização é de cinco mil milhões de euros.

Estes cálculos comparam o preço das acções no último dia de 2008 com o valor de fecho de 23 de Dezembro. Foram considerados apenas os accionistas que tinham mais de 2% do capital das principais empresas cotadas.

Vejam se, por algum acaso, conhecem os nomes da lista que é liderada por Américo Amorim, e da qual fazem parte as famílias e holdings pessoais de:

Belmiro de Azevedo, Alexandre Soares dos Santos, Espírito Santo, Pedro Queiroz Pereira, Pedro Maria Teixeira Duarte, Vasco de Mello, António Mota, Manuel Fino, Joe Berardo, Nuno Vasconcellos, Horácio Roque, Joaquim Oliveira, Fernando Nunes, Luís Silva e Pinto Balsemão.

Estranho não ver na lista um amigo cuja história aqui contei faz dia 31 um ano. Creio, contudo, que não tardará a estar nesta galeria.

Permitam-me que (re)conte a história. Um amigo, empresário no norte de Portugal, cuja empresa estava – dizia ele – em crise com o cenário do depedimento de dezenas de empregados disse-me:

“Se não tiver ajuda do Estado, não tenho outra solução. As vendas tiveram uma quebra substancial, tenho dificuldades em receber o que vendo, por isso não há alternativa”.

“Mas não foi contratado um director para procurar uma saída, uma alternativa? Não é mesmo possível aguentar o pessoal, procurando criar novos produtos, descobrir novos nichos de mercado?”, perguntei eu com a ingenuidade própria de quem nada percebe de empresas.

“O novo director apenas conseguiu constatar que a crise existe e que a solução para reduzir custos é despedir algum pessoal”, disse o meu amigo, lamentando a situação e dizendo-se triste por não ter alternativa.

Afinal, pensei eu, a crise existe mesmo.

Antes de, apesar de tudo, lhe desejar um bom 2009 (estávamos, lembro, em Dezembro de 2008), perguntei-lhe a medo onde iria passar o fim do ano. Pareceu-me uma pergunta descabida, sobretudo atendendo ao contexto da nossa conversa. Mas é daqueles coisas em que só se pensa depois de dizer.

“Já estou em Cuba onde vou passar o fim do ano”, respondeu-me.

“Como? Em Cuba? Mas tu vais para Cuba com a situação em que está a tua empresa, com o cenário catastrófico que acabaste de relatar?”, indignei-me.

“Meu caro, a empresa está em crise, mas eu não estou em crise”, respondeu-me com um tom de voz típico de quem ia gozar à grande e à portuguesa... com os portugueses.

2 comentários:

Manuela Araújo disse...

Caro Orlando,

Já Gandhi dizia: "No mundo há riqueza suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas não para alimentar a ganância de cada um".
Este mundo está no mau caminho, a espécie humana não aprende com os próprios erros, não sabe distinguir aquilo que é essencial, pois é invisível aos olhos (Exupery).
Talvez por sermos uma espécie relativamente "jovem" que ainda não aprendemos, mas será que chegamos a adultos sem nos levarmos à extinção?

Pena é que paga sempre o mais fraco pelos erros dos mais fortes...

Uma abraço

Vento Norte disse...

Meu caro

Eles comem tudo até ao dia em serão encostados a uma parede. Aí talvez se questionem: não teria sido melhor se?...

Abraço