quarta-feira, dezembro 09, 2009

Mais vale a corrupção do que a droga
(ou será mais viável juntar as duas?)

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, avisou (voltou a avisar) o Conselho de Segurança que o tráfico de droga é uma ameaça aos avanços feitos no âmbito da construção da paz na Guiné-Bissau, Serra Leoa, Libéria, Haiti e Afeganistão.

Pelos vistos, segundo a ONU, a corrupção é diferente porque (ainda segundo Ban Ki-Moon) só põe em risco as bases da democracia.

E se assim é, cabe a quem quiser estar preocupado com essas ninharias escolher se quer a paz ou a democracia. Ou nenhuma. Como para os donos do mundo interessa que nenhuma delas exista em muitos países (armas, droga, petróleo e corrupção são bons negócios), lá vamos continar a ter os pobres mais pobres e os ricos mais ricos.

Ban Ki-Moon falava ao Conselho de Segurança da ONU no âmbito do debate sobre "Paz e Segurança em África: o tráfico de drogas, uma ameaça para a segurança internacional". Debate de diagnóstico e que, como sempre, deixa na gaveta a medicação necessária.

"O carácter transnacional da ameaça significa que nenhum país a pode combater sozinho", afirmou Ban Ki-Moon, apelando a um trabalho conjunto dos Estados. Ou seja, apelando ao vazio já que ninguém está verdadeiramente interessado em combater os problemas dos... outros.

"A luta contra o tráfico de droga precisa de constante vontade política e de importantes recursos", sublinhou Ban Ki-Moon, acrescentando que os países devem trocar informações, realizar operações conjuntas e prestar assistência mútua. Treta. Treta que todos os anos é repetida sem que se tomem medidas.

Na mesma sessão o director-executivo do Gabinete das Nações Unidas de Combate à Droga e ao Crime, António Maria Costa, disse que o tráfico de droga está a aumentar em África.

"Hoje, com ataques de vários lados, o continente está a enfrentar um sério e complexo problema de drogas: não só tráfico de droga, mas também de produção e consumo", afirmou António Costa, sublinhando que vão existir graves problemas ao nível da saúde, desenvolvimento e segurança.

Segundo António Costa, o continente está a ser afectado pelo tráfico de cocaína, proveniente de Oeste, e de heroína, de Leste: "Há evidência que duas redes de tráfico ilícito de drogas - heroína pela África Oriental e cocaína pela África Ocidental - confluíram no Saara, criando novas rotas ao longo do Chade, Níger e Mali".

António Costa adiantou que "terroristas e forças anti-governamentais do Sahel estão a obter recursos a partir do tráfico de droga para financiar as suas operações".

Pois é. É um duplo crime. É que se ao menos fossem os “bons” a financiar-se com o tráfico de droga, ainda vá que não vá. Agora terroristas? Essa não!

Acresce que, como no passado, os terroristas de hoje poderão ser nobres e exemplares democratas amanhã. Tudo depende dos superiores interesses dos donos do mundo.

Yasser Arafat foi terrorista da pior espécie e depois virou herói mundial. Saddam Hussein foi um herói com diploma de mérito passado pelos EUA e depois tornou-se no pior terrorista, o mesmo se passando com Robert Mwgabe, Jonas Savimbi e muitos outros.

Aliás, a minha animosidade em relação a Saddam Hussein (na foto, em 1983, com Donald Rumsfeld) foi diminuindo ao longo dos últimos anos. Para essa diminuição contribuiu decisivamente George W. Bush. Sempre que o então presidente dos EUA e comandante chefe da polícia do mundo falava... aumentava a minha simpatia (ou, se quiserem, diminuia a minha aversão) em relação ao ex-presidente iraquiano.


"Se eu fosse um iraquiano médio, obviamente faria a mesma comparação - de que eles tinham um ditador brutal, mas tinham as ruas calmas, podiam sair, os filhos podiam ir à escola e voltar sem que a mãe ou o pai se preocupassem".

Sabem quem disse isto? Nem mais nem menos que o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

1 comentário:

Guilherme Freitas disse...

Orlando, infelizmente não há mocinhos e vilões. Estão todos juntos atuando pelos seus interesses. Abraços.