sábado, dezembro 05, 2009

O princípio do fim da UNITA

De vez em quando o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, apela aos militantes e simpatizantes para reflectirem profundamente sobre o estado de organização interna do partido. Não adianta reflectir porque qualquer reflexão é apenas para fazer de conta.

Mas será que essa reflexão vale a pena? Volto a perguntar. Ou é apenas mais um repto retórico para cumprir calendário e satisfazer algumas regras democráticas? É que não têm faltado reflexões que, no fim de contas, são atiradas para o lixo.

"É necessário que se faça um trabalho árduo em prol dos ideais do partido, tendo em conta o actual contexto da vida política do país", afirmou Samakuva em Março deste ano, exortando todos os dirigentes, militantes e simpatizantes da UNITA a trabalharem para mudar o curso dos resultados obtidos nas últimas eleições legislativas.

Legislativas nas quais a UNITA, recorde-se, teve apenas 572.523 votos a que correspondem a 10,36% e 16 deputados na Assembleia Nacional, contra os 70 da legislatura anterior resultante das eleições gerais de 1992.

Eu sei que não adianta reflectir. Sobretudo porque esta UNITA está mais virada para o seu umbigo do que para a barriga vazia dos angolanos, mais (ou totalmente) disposta a escorraçar os que pensam de forma diferente. Mesmo assim, em memória do Mais Velho, reflictamos mais uma vez.

Ninguém melhor, penso, do que Samakuva para saber se a UNITA vai conseguir viver sem comer. Temo que, apesar da muita experiência, um dia destes se venha dizer, venha o MPLA dizer, que exactamente quando estava mesmo, mesmo a saber viver sem comer, a UNITA morreu.

É claro que a UNITA morre mas os seus coveiros terão, como sempre, lautos manjares, seja em Luanda ou em qualquer outra cidade do mundo.

A UNITA teima desde a morte de Jonas Savimbi em confundir as esquinas da vida com a vida nas esquinas. Continua a preferir cada vez mais ser assassinada pelo elogio do que salva pela crítica. E quando assim é...

A UNITA está a gastar balas preciosas para matar a onça que já está morta, ficando-se sem munições para disparar contra o leão que está de atalaia. Será difícil entender isto? Pelos vistos é. E então quando é dito por angolanos brancos... a coisa torna-se mais negra.

Depois de perdida (embora com muita batota) a batalha das legislativas, continuo a pensar que a UNITA escolheu os seus “generais” para a “guerra” política e até mesmo para as presidenciais (se as houver), baseada em critérios de parca consistência.

Continuo a pensar que se Jonas Savimbi fosse vivo, grande parte destes “generais” não passava de “cabos”. “Cabos” que, recorde-se, passarem a generais nas FAA e o ajudaram a matar.

E, para – apesar de tudo - meu penar, não sou o único (longe disso) a pensar assim. Sou, eu sei, dos poucos que publicamente assume esta tese. Tenho, no entanto, recebido testemunhos com chipala e nome, que comprovam que o Estado-Maior da UNITA continua a querer ganhar a “guerra” com “generais” que ao primeiro “tiro” vão para o outro lado da barricada ou, na melhor das hipóteses, levantam os braços e içam um pano branco.

O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu , não vê e dificilmente verá na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba Gato, Alcides Sakala e Samuel Chiwale.

De há muito que pergunto: Terá sido para isto que Jonas Savimbi lutou e morreu? E lá vou acrescentando: Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus muitos erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido.

Continuo a lamentar que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro... mesmo sendo brancos.

Também é pena, importa continuar a dizê-lo, que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.

Se calhar também é de lamentar que figuras sem passado, com discutível presente, queiram ter um futuro à custa da desonra dos seus antepassados que deram tudo o que tinham, incluindo a vida, para dignificar os Angolanos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Orlando,
Brilhante peça!
Abraço
José Martins

ELCAlmeida disse...

Esperemos que estejas errado no que toca ao fim da UNITA e que queiras dizer que será o fim daqueles que continuam a pensar que a UNITA são eles e não quem eles devem respeito...
Até ao congresso vamos aguardar...
Abraços
EA