quinta-feira, dezembro 24, 2009

Os meus meninos não têm Natal

Com fios feitos de lágrimas de dor
os meus meninos do Huambo choram
ainda marcados pelo muito horror
da miséria e da fome onde moram.

Com os lábios de muito dizer aiué
soletram pensamentos de esperança
como quem se alimenta de tanta fé
inebriada pelos sorrisos de criança.

Os meus meninos à volta da fogueira
já aprenderam que dizer a verdade
será talvez mais uma bonita bandeira
mas que o melhor é não falar de saudade.

Com os sorrisos mais lindos do planalto
- Essa é uma certeza para a eternidade,
fazem contas engraçadas de sobressalto
e subtraem a fome a sonhos de igualdade.

Dividem a chuva miudinha pelo milho
como se isso fosse o seu eterno destino,
saltam ao céu toda a dor feita andarilho
no seu estilhaçado mundo peregrino.

Os meus meninos à volta da fogueira
não vão aprender novas palavras
porque a dor da miséria é cegueira
que alimenta todos os dias as lavras.

Assim descontentes à voltinha da poesia
juntam palavras do tempo que passa
para ver se alimentam a barriga vazia
e se descobrem o fim de tanta desgraça.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois não Orlando... Este Mundo é muito injusto! Até dói...
Um Feliz Natal para si, com tudo de bom, Orlando, Saúde, Amor, Alegria e Paz dentro do possível... pois com o sofrimento dos outros, torna-se uma utopia.
Quem me dera poder abraçar os seus meninos, dar-lhes tudo quanto precisam...
Um abraço

Carla Teixeira disse...

Infelizmente, milhões de meninos no mundo não têm Natal, Ano Novo, Páscoa, Carnaval, dia de anos ou sequer dia de serem felizes. Não há cântico que os valorize como deviam ser valorizados, nem Natal que faça com que sejam alvo da justiça que, só por serem meninos e meninas, inocentes e puros, deviam ter assegurada. Não por ser Natal, mas por ser apenas mais um dia na vida destes meninos, desejo o impossível: que a fome e a guerra acabem, antes de se acabar por completo a Humanidade.

Ao Orlando, aquele abraço!
Que o Natal seja aquilo que puder ser no contexto difícil que o mundo atravessa.