quinta-feira, janeiro 28, 2010

A bem da pequenez da nação, Cabinda é
tabu (bem pago) na imprensa portuguesa

(Quase) todos os jornalistas portugueses estão proibidos, ao abrigo de critérios editoriais (forma simpática para traduzir a censura dos donos dos jornalistas e dos donos dos donos) de falar sobre Cabinda.

Esta é, aliás, uma forma eficiente de evitar chatices com o dono total de Angola (José Eduardo dos Santos) e com o dono (ainda) parcial de Portugal (José Eduardo dos Santos). Além disso, se o homem a quem Belmiro de Azevedo chama da ditador, Cavaco Silva, entende que Angola vai do Cabinda ao Cunene, quem julgam os jornalistas que são para contrariar o presidente?

Se também o governo, pela voz autorizada do seu secretário de Estado da Cooperação, João Gomes Cravinho, diz o mesmo... não há nada a fazer que não seja... comer e calar.

Por alguma razão, o que se passou em Abril de 2001 quando se deu o afastamento compulsivo das equipas de reportagem da RTP, SIC e TVI que estavam em Cabinda, nunca mais algo de semelhante se voltou a repetir.

E não voltou não porque Cabinda tenha desaparecido do mapa. Não voltou porque os tais critérios editoriais, de completa submissão acocorada ao poder do petróleo do regime angolano, fazem com que Cabinda deixe de ser notícia, obviamente ao contrário de uma qualquer bitacaia em José Eduardo dos Santos.

Por alguma razão o próprio Sindicato dos Jornalistas portugueses protestou na altura, nunca mais se interrogando (é verdade que também não é para isso que existe) sobre as razões que levam os jornalistas por imposição superior a não falarem do assunto.

Antes, não muito – é certo, havia a censura em Portugal. Hoje não há censura, há autocensura. Antes havia a censura, hoje há os critérios editoriais. Antes havia censura, hoje há audiências. Antes havia censura, hoje há lucros. Antes havia Jornalismo, hoje há comércio jornalístico.

Antes a única tarefa humilhante no Jornalismo era a que se realizava com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha, inveja e incompetência. Hoje nada é humilhante desde que dê lucro.

Antes um Jornalista nunca (nunca) vendia a sua assinatura para textos alheios, tantas vezes paridos em latrinas demasiado aviltantes. Hoje é tudo uma questão de preço.

Antes, se o Jornalista não procurava saber o que se passava no cerne dos problemas era, com certeza, um imbecil. Antes, se o Jornalista conseguia saber o que se passava mas, eventualmente, se calava era um criminoso. Hoje há cada vez mais imbecis e criminosos.

Antes os Jornalistas erravam muitas vezes. Hoje não erram. E não erram porque há cada vez menos Jornalistas. Assim sendo, as linhas de montagem (em Angola como em Portugal) não precisam de jornalistas.

Tudo o resto são cantigas, tenha o país um governo eleito ou não, seja ou não uma democracia, chame-se Portugal, Burkina Faso ou Angola.

E quando alguns dos fazedores desse produto comercial a que se chama comunicação social, reivindicam o papel de jornalistas, entram logo um funcionamento os chamados critérios editoriais de carácter jornalístico.

E o que é que isso é? É um patamar de decisão ao qual têm acesso privilegiado todos aqueles mercenários que estão no poleiro, seja político, empresarial, cultural etc. e que visa dar cobertura, a troco de apoios financeiros, aos dono de uma sociedade de aparências, de favores, de corrupção, de compadrios, de manipulações.

Hoje, em Angola como em Portugal (por exemplo), a grande maioria aceita fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar, e mesmo assim...), este aceita fazer tudo o que o director manda, este aceita fazer tudo o que a Administração manda, e esta aceita fazer tudo o que dê lucro.

Não deixa, contudo, de ser curioso que – nesta matéria e neste contexto – quanto mais imbecis e criminosos forem os jornalistas, mais hipóteses têm de subir na carreira, seja esta nos media propriamente ditos ou nas assessorias políticas.

1 comentário:

Anónimo disse...

DR. ORLADO CASTRO, CONTINUE A ESCREVER SOBRE CABINDA, POR CERTO ALGUEM FORA DESTA ESPELUNCA E VAI LER E SE INTERROGAR.
SOU PORTUGUES, NATURAL DE COIMBRA, NÃO SOU ANGOLANO, MAS GOSTO DESSE POVO, ESTIVE EM ANGOLA AO SERVIÇO DA PÁTRIA (COISA QUE HOJE NÃO SABEM O QUE É).

CABINDA LIVRE

CARLOS BRANDÃO