segunda-feira, janeiro 11, 2010

Recebi os avisos, mas a luta... continua

Nesta fase tinha decidido fazer uma pausa nos escritos sobre Cabinda. No entanto, a chegada em catadupa de mensagens, quase todos com avisos ao estilo “o melhor é estares calado” leva a que, mais uma vez, não me cale e, por isso, volte ao assunto.

Ainda não há muito tempo, na sua qualidade de advogado e professor universitário, Francisco Luemba disse ao Jornal PÚBLICO que "a grande maioria dos cabindas quer a independência e apenas aceitando a autonomia como uma solução transitória, uma etapa".

Dir-me-ão alguns que isso é uma utopia. Exactamente como há 36 anos diriam alguns a propósito da independência de Angola, como há poucos meses diriam alguns a propósito do Kosovo, como agora dirão também quanto ao País Basco.

Mas, tal como se disse em relação a Angola e ao Kosovo, um dia destes estará por aqui, queiram ou não os autores das mensagens, nem todas anónimas, alguém a falar da efectiva independência de Cabinda. É que a causa dos cabindas poderá estar adiada, mas nunca estará derrotada.

Francisco Luemba recordou nas declarações ao PÚBLICO que, quando em Julho de 2008 o então ministro angolano das Obras Públicas, Higino Carneiro, esteve em Cabinda num comício do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), ouviu dos jovens gritos de "Independência!".

Nesse mesmo trabalho do jornalista Jorge Heitor, é dito que já em 2001 o então bispo de Cabinda, D. Paulino Fernandes Madeca, dissera ao PÚBLICO que a maioria dos cidadãos residentes era a favor da independência. "Na cidade menos, mas no interior é mais radical o desejo independentista”, afirmou o bispo.

Creio que só por manifesta falta de seriedade intelectual, típica dos sucessivos governos portugueses, é que se pode dizer que Cabinda é parte integrante de Angola.

Cabinda só passou a ser supostamente parte de Angola quando, em 1975, os sipaios portugueses ao serviço do comunismo e os três movimentos ditos de libertação resolveram nos Acordos do Alvor integrar Cabinda em Angola.

Cabinda – repita-se para que os sipaios que agora usam mails não se esqueçam - foi comprada pelo MPLA nos saldos lançados pelos então donos do poder em Portugal, de que são exemplos, entre outros, Melo Antunes, Rosa Coutinho, Costa Gomes, Mário Soares, Almeida Santos.

É claro que, tal como em Timor-Leste, até à vitória final, continuará a indiferença (comprada com o petróleo de Cabinda), seja de Portugal, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, da ONU ou de qualquer outra coisa que tenha preço.

E é pena, sobretudo quanto a Portugal, que à luz do Direito Internacional ainda é a potência administrante de Cabinda. Lisboa, de onde chegaram alguns dos avisos, terá um dia (quando deixar de ter na Sonangol, MPLA, clã Eduardo dos Santos um faustoso investidor) de perceber que Cabinda não é, nunca foi, nunca será uma província de Angola.

Por manifesta ignorância histórica e política, bem como por subordinação aos interesses económicos de Angola, os governantes portugueses fingem, ao contrário do que dizem pensar do Kosovo, que Cabinda sempre foi parte integrante de Angola. Mas se estudarem alguma coisa sobre o assunto, verão que nunca foi assim, mau grado o branqueamento dado à situação pelos subscritores portugueses dos Acordos do Alvor.


Embora seja suspeito porque sou o autor do prefácio, sugiro aos responsáveis portugueses que leiam o livro “O problema de Cabinda exposto e assumido à luz da verdade e da justiça”, de Francisco Luemba.

Este livro de Francisco Luemba é uma completa enciclopédia sobre este território que tarda em ser país. Do ponto de vista histórico, documental e científico é a melhor obra que até hoje li sobre Cabinda. Espero, por isso, que tanto os ilustres cérebros que vagueiam nos areópagos da política internacional como os que se passeiam nos da política angolana e portuguesa, o leiam com a atenção de quem – no mínimo – sabe que os cabindas merecem respeito.

Francisco Luemba mostra, com a precisão de um Mestre, exactamente isso, mau grado a manifesta incapacidade de entendimento dos que, um pouco por todo o lado, se julgam donos da verdade e querem mandar para campos de reeducação todos aqueles que pensam de maneira diferente.

Deixem-me, por fim, dizer sobretudo aos que mandaram avisar que só é derrotado quem deixa de lutar. E é por isso que Cabinda acabará por ser independente. É que os Cabindas nunca deixarão de lutar. E ainda bem que assim é, digo eu.

3 comentários:

Anónimo disse...

SENHOR ORLANDO CASTRO, PARABENS PELA SUA LUTA.
NÓS,PORTUGUESES (ALGUNS) BEM SABEMOS COMO FOI ENTREGUE A CABINDA A ANGOLA.
VIVA CABINDA LIVRE

CARLOS BRANDÃO

Anónimo disse...

GRANDE HOMEM, Orlando!
É assim mesmo e vêm cá com injustiças no Kosovo, Palestina, Timor, esquecem-se muita vezes também da injustiça para com os tibetanos, porque ninguém lhes ouve a voz e S.S. Dalai Lama percorre o Mundo todo, em apelos! Contra isto, nada a fazer:
Riquezas do Tibete - Grandes áreas preservadas compostas por enormes florestas, consideradas um grande potencial bioenergético, sem contar as importantes jazidas de minérios presentes no território do Tibete, tais como cromo, cobre, bórax, urânio, lítio, ferro, cobalto e muitos outros. Para não falar da água, onde nascem dos maiores rios do Mundo, Ganjes e Pó...
E o Congo... Numa guerra sustentada pela ONU, para que possam saquear todas as suas riquezas!
É tudo uma questão de ganância desses cretinos e seus acólitos que pretensamente "governam" o Mundo! Está a saque o Planeta!
PARABÉNS ORLANDO e viva Cabinda Livre, que bem merecem.
Desistir é morrer!

Paulo Kilamba disse...

Por mais que voces se esforcem para desestabilizar Angola,nós vamos vencer!! Cabinda é e sempre será Angola. Assim como o País Basco sempre será Espanha e tambem nada tem a ver com a constituição do reino de Castela, assim como o Alaska continuará a pertencer aos EUA apesar deste territorio ter sido comprado aos Czares da Russia no seculo XVIII e não teve o mesmo percurso historico que teve o restante territorio dos EUA. Enfim, o Sr Orlando pavoneia-se aos 4 ventos dizendo que é Angolano, mas que Angolano na sua essencia não tem absolutamente NADA.(Atenção:Não falo de cor da pele nem de origens, falo de atitude,de patriotismo de amor pelo povo e pelo País) Leio os artigos no seu blogue e so vejo criticas e mais criticas, da-me a impressão de ser uma pessoa negativista. Critica mas não apresenta soluções..... Angola com ou sem MPLA será sempre Una e Indivisivel pois se assim não for é preferivel repartir o País em regiões como era antes da Conferência de Berlim de 1889.