quinta-feira, março 18, 2010

Cobardia portuguesa no caso de Cabinda

O rei de Marrocos, Muhammad VI, afirmou hoje ao enviado da ONU para o Saara Ocidental, Christopher Ross, que o seu país está "plenamente disposto" a negociar para resolver o conflito na região com base nas resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Pois é. Um dias destes, quando a cobardia internacional, com Portugal à cabeça, deixar de ser moeda de troca com o petróleo, chegará a vez de Cabinda, território ocupado por Angola desde a descolonização portuguesa.

Ross esteve hoje na cidade de Tétouan (norte) acompanhado do ministro de Assuntos Exteriores marroquino, Taïeb Fassi-Fihri, para uma reunião com o monarca.

Na reunião, Muhammad VI lembrou a Ross que o Marrocos aposta na negociação como forma de solucionar o conflito, partindo da resolução 1871 do Conselho de Segurança, que pede às partes para que demonstrem realismo e compromisso nas negociações.

O rei também fez uma veemente defesa da iniciativa de autonomia que o Marrocos propõe para a ex-colónia espanhola, que, segundo ele, "responde perfeitamente aos parâmetros e direcções das resoluções do Conselho de Segurança".

Na sua terceira viagem pela região desde que foi nomeado enviado especial em 2009, Ross pretende voltar a colocar as partes envolvidas na mesa das "conversas informais" que devem abrir caminho para uma nova ronda de negociações em Manhasset (EUA).

A última destas reuniões informais aconteceu em Fevereiro deste ano em Armonk (EUA), onde as partes decidiram apenas continuar a negociar.

Tanto Marrocos como a Frente Polisário, movimento que luta pela independência do Saara Ocidental, ouviram as propostas de cada um, mas rejeitaram utilizá-las como base para as conversas.

Na reunião de hoje com Ross, Muhammad VI novamente recusou a opção de um referendo no Saara Ocidental que contenha várias opções, entre as quais a independência, como quer a Frente Polisário.

Neste sentido, Marrocos recebeu um novo fôlego de Washington, onde foi divulgada hoje a carta enviada por 54 dos 100 senadores americanos à secretária de Estado, Hillary Clinton, que apoia a iniciativa de autonomia marroquina como uma opção séria e crível.

"Estamos muito preocupados com os indícios de uma crescente instabilidade no norte da África", onde as actividades terroristas aumentaram e "os países da região estão sob uma grande pressão de uma juventude agitada e uma precária base económica", diz a carta.

Para o porta-voz do Governo marroquino, Khalid Naciri, o texto dos senadores americanos "reconforta" Marrocos e demonstra que "as grandes potências são conscientes da necessidade de agir".

A situação dos direitos humanos é outro dos pontos relevantes na viagem de Ross, quem deve apresentar em Abril um relatório ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para que o Conselho de Segurança possa debater a renovação do mandato da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental (Minurso).

Tanto a Frente Polisário como a Argélia pretendem que o próximo mandato da Minurso inclua a supervisão dos direitos humanos no Saara Ocidental, algo que tem a oposição de Rabat por considerar que a própria Frente Polisário não os respeita.

E enquanto em Cabinda defensores dos direitos humanos continuam a ser tratados pela força colonial angolana como seres menores, Portugal continua a cantar e a rir.


Pois é. Mas um dias destes, quando a cobardia internacional, com Portugal à cabeça, deixar de ser moeda de troca com o petróleo, chegará a vez de Cabinda, território ocupado por Angola desde a não menos cobarde descolonização portuguesa.

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