O PS acusou hoje o PSD de ter aprovado em congresso uma proposta de alteração aos seus estatutos de cariz "estalinista" e de impor na sua organização interna um clima de "claustrofobia democrática". Não está mal, sobretudo porque em Portugal há falta de espelhos.
De facto, embora seja uma medida contestado pelo futuro líder do PSD (todos os candidatos à liderança estão contra), o congresso do PSD aprovou uma alteração estatutária, proposta por Pedro Santana Lopes, que pune com a suspensão de membro do partido até dois anos ou com a expulsão os militantes que violem o dever de lealdade para com o programa, estatutos, directrizes e regulamentos do partido, especialmente se o fizerem nos 60 dias anteriores a eleições.
"Fiquei incrédulo e estupefacto quando tomei conhecimento dessa alteração estatutária. A confirmar-se essa alteração estatutária, quase 36 anos após o 25 de Abril de 1974, estaremos perante uma verdadeira lei da rolha, uma lei estalinista implementada por um partido democrático", afirmou o dirigente socialista Vitalino Canas.
Pois é. Nesta matéria, como noutras, a diferença entre este PS e o PSD de hoje é que um passou ao papel, deu forma estatutária, o que o outro pratica de forma velada, não assumida, e que – aliás –transpôs para a todos os agentes sociais, empresariais e similares onde tem poder ou influência.
Como enquanto se atiram pedras ao adversário ninguém se lembra do que se passa na própria casa, toda ela cheia de telhados de vidro, este PS lá vai mantendo a regra velada e não assumida de todos estarem de joelhos perante o soba.
Segundo este membro do Secretariado Nacional do PS, a alteração estatutária dos sociais-democratas é "insólita" e "é possível que nem sequer exista em outros partidos". Não existe de jure. Mas existe de facto. Se o PS conseguir olhar-se ao espelho verá que, sobretudo na sua história recente, não faltam exemplos democráticos da ditadura do chefe.
"No PS não existe isso, nem existirá e, se alguém quisesse que existisse, muitos de nós lutaríamos contra uma norma estatutária com essa natureza", afirmou Vitalino Canas. É a diferença, apesar de tudo, entre pôr preto no branco o que se pensa e pôr em prática o que o chefe pensa sem assumir esse ónus.
Recordam-se certamente sobretudo os portugueses que não são deste PS (embora possam ser do PS), que por alguma razão, António Barreto disse num artigo publicado no Público em Janeiro de 2008 que José Sócrates “não tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que organizou com as suas poderosas agências de intoxicação a que chama de comunicação”?
Recordar-se-á Vitalino Canas que, ainda de acordo com António Barreto, “o primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas”?
Recordar-se-á Vitalino Canas que, sempre citando Barreto, que “este é o mundo em que vivemos: a mentira é uma arte. Esta é a nossa sociedade: o cenário substitui a realidade. Esta é a cultura em vigor: o engano tem mais valor do que a verdade”.
Segundo António Barreto, os ex-assessores do governo agora chamados de "Press officers e Media consultants", falam todos os dias com os administradores, directores e jornalistas das televisões, das rádios e dos jornais e (no que aos jornalistas respeita) “escrevem notícias com todos os requisitos profissionais, de modo a facilitar a vida aos jornalistas”. Lembrar-se-á disto este membro do Secretariado Nacional do PS?
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