Ao que parece é mais do que definitivo que a Fundação Ibéria, ou melhor, Saramago, vai instalar-se na Casa dos Bicos em Lisboa, sendo irrelevante que as obras de remodelação tenham passo dos 595 mil euros inicialmente previstos para 2,2 milhões, ou seja, quase quatro vezes mais.
Não sei se alguém se recorda, a memória lusa é cada vez mais uma vaga ideia, mas no dia 15 de Julho de 2007, José Saramago resolveu, em entrevista ao “Diário de Notícias” dizer que Portugal, "com dez milhões de habitantes", teria "tudo a ganhar em desenvolvimento" se houvesse uma "integração territorial, administrativa e estrutural" com Espanha.
A bondade da ideia colheu, ao que parece, a simpatia nacional – sobretudo a que vagueia nos areópagos da macro-política lisboeta, a ponto de a Casa dos Bicos ficar à disposição do pai da Ibéria.
Quem não terá gostado muito da ideia, embora só o tenha manifestado a 4 de Setembro de 2007, foi o presidente da República que considerou as opiniões de Saramago "um absurdo".
Recorde-se que o prémio Nobel da Literatura previu que Portugal vai acabar por tornar-se uma província de Espanha e integrar um país que se chamaria Ibéria para não ofender "os brios" dos portugueses. Se calhar Saramago até tem razão.
O escritor, que reside há 17 anos na ilha espanhola de Lanzarote, considera que Portugal, "com dez milhões de habitantes", teria "tudo a ganhar em desenvolvimento" se houvesse uma "integração territorial, administrativa e estrutural" com Espanha.
Se for, na minha opinião, tão bom futurólogo como é escritor, todos podem estar descansados. Os portugueses continuarão a ser os mais europeus do norte de África.
Portugal tornar-se-ia assim, sugere o Nobel português, mais uma província de Espanha: "Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla La Mancha e tínhamos Portugal".
"Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria. Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar", disse o escritor, membro do Partido Comunista Português desde 1986.
Então questionado sobre a possível reacção dos portugueses a esta proposta, Saramago disse acreditar que aceitariam a integração, desde que fosse explicada: "não é uma cedência nem acabar com um país, continuaria de outra maneira. (...) Não se deixaria de falar, de pensar e sentir em português".
Com o mérito (reconheça-se) de vender que se farta os seus livros, a que alguns chamam de literatura, Saramago é livre (mesmo pertencendo ao PC) de dizer o que bem entende. Aliás, entre um génio e um eunuco mental a quem foi dado um Nobel… todos sabemos a quem a Imprensa dá destaque.
Na visão do escritor, Portugal não passaria a ser governado por Espanha, passaria a haver representantes de ambos os países num mesmo parlamento e, tal como acontece com as autonomias espanholas, Portugal teria também o seu próprio parlamento.
Numa entrevista de quatro páginas ao DN, Saramago falou também da sua fundação, recentemente constituída, que deverá "intervir social e culturalmente, preocupar-se com o meio ambiente e outras questões", também na província espanhola de Portugal.
A Fundação José Saramago, que será presidida pela mulher do escritor, terá sede na capital provincial de Portugal (Lisboa) e prolongamentos em Lanzarote, na terra do escritor, Azinhaga, e na terra de Pilar, Castril.
Tudo, é claro, a bem da Ibéria saramaguiana.
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