segunda-feira, março 29, 2010

Valença em luta contra fecho das urgências

Os utentes do Centro de Saúde de Valença (Minho – Portugal) estão unidos na luta contra o fecho das urgências. À luta nas ruas junta-se a contestação nos gabinetes, neste caso da autarquia cujo presidente da Câmara Municipal está do lado de quem deve, dos munícipes.

Esta luta trouxe-me à memória uma entrevista dada em Abril do ano passado pelo empresário Henrique Barreira ao Notícias de Valença. Isso porque dizer o que se pensa ser a verdade, e no caso era mesmo a verdade, é - continua a ser - o melhor predicado das pessoas de bem.

É claro que afirmar que se o poder relativo corrompe, o poder absoluto corrompe totalmente, tem altos custos. Tão altos quanto o país está longe de ser um verdadeiro Estado de Direito.

O que disse Henrique Barreira a propósito de Valença (“...Daqui resulta que os que detêm o poder acham que aquilo que pensam é o que está certo”) é, apesar dessa dura realidade, algo tão antigo quanto a humanidade. Parece que as pessoas têm atávicas dificuldade em aprender e em ver a realidade.

Já Platão, que viveu antes de Cristo, afirmava que “o castigo por não participarmos na política é acabarmos por ser governados por quem nos é inferior.”

É, portanto, um problema que, apesar de velho, não morre com a idade. Pelo contrário. Parece ser sempre novo e pujante, apenas se adaptando a novas realidades.

Henrique Barreira, mais do que pôr um dedo na ferida, pôs todos os dedos. “A questão é que a que a gestão autárquica de Valença está nas mãos de algumas pessoas que entraram por uma porta e saíram por outra porta, já políticos”, dizia o empresário numa radiografia precisa mas que, infelizmente, se aplica a todo o país.

Porque é que isso acontece? Há mil e uma explicações, mais ou menos eruditas, mais ou menos pragmáticas. A tese de Henrique Barreira não fica a dever nada às melhores que já li. Diz ele que “são pessoas desprovidas da humildade própria de quem tem por missão gerir os destinos duma comunidade” mas que, se calhar, “antes de tudo gerem os seus próprios interesses”.

E é curioso, para além de didáctico, tentar ver a questão pelos olhos deste empresário que, a partir de um exemplo local, a gestão autárquica de Valença, nos indicava (isto foi há um ano, note-se) caminhos de reflexão e de acção que devem ser assumidos no todo nacional.

“A questão fulcral que baliza todo o tipo de acontecimentos é que temos as pessoas com responsabilidade de governação desatentas ao tempo e às mudanças, que se deixaram ultrapassar por visões obtusas da realidade”, afirmava Henrique Barreira que, a propósito do que se (não) tem feito por Valença, era peremptório: “Penso que esta terra só é relembrada por quem vem de Espanha pela ponte velha e bate de frente nas muralhas”.

Sem medo das palavras, o que é cada vez mais raro, Henrique Barreira defendia que os valencianos devem procurar alternativas, mas no actual quadro político-partidário (que muitas vezes não é solução para o problema mas, isso sim, um problema para a solução) entende que “o PSD nacional e o local estão a sair do estado de coma”.

Mas para tal era necessário limpar situações como a do vereador, filiado no PSD mas eleito pelo PS (?!!!) que acumula pelouros - ele é a Cultura, ele é o Desporto, ele é a Juventude, ele é o Turismo, ele é o Património, ele é o Trânsito... - e que acaba, com as suas relações, por minar a Câmara, a União Empresarial e o próprio PSD numa promiscuidade digna dos melhores seguidores de Maquiavel, sem que na altura o PSD fizesse o que quer que fosse.

E na tal perspectiva de dizer a verdade, Henrique Barreira entendia (e o melhor é mesmo ler toda a entrevista) que o então presidente da Câmara, José Luís Serra, é um bom economista e um mau político, rodeado por incompetentes que acima de tudo zelam interesses pessoais em detrimentos dos da comunidade.

Nessa entrevista, Henrique Barreira dizia que se não pode passar a vida a abanar a cabeça como os cãezinhos, metendo o rabinho entre as pernas.

E agora, e apesar de a Câmara Muncipal ter mudado de presidente, os valencianos parecem ter-se fartado de abanar a cabeça e de meter o rabinho entre as pernas.

A Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte justificou hoje o encerramento do Serviço de Atendimento Permanente (SAP) de Valença com o facto de estarem cumpridos "integralmente" os requisitos previstos nos protocolos com as autarquias assinados em 2007.

O facto de o encerramento se dar depois de o PS ter perdido a presidência da autarquia para o PSD é, claro está, mera coincidência...

Foto: Arménio Belo/Lusa

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