sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Marinho Pinto, este Governo,
o chefe do posto e os sipaios

O director nacional da Polícia Judiciária de Portugal, Alípio Ribeiro, assegurou hoje que o Ministério da Justiça nunca lhe deu qualquer instrução relativamente à investigação de nenhum processo criminal, desmentindo acusações feitas ontem pelo bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto.

Já antes de ser bastonário, Marinho Pinto dizia o que pensava, e o que pensava (importa reconhecê-lo) era quase sempre o que povo também pensava. De uma forma geral, talvez por ter passado por um outro Jornalismo, utilizava a sua voz para dar voz a quem a não tem.

Pelos vistos, o bastonário conseguiu agora fazer tremer o Carmo e a Trindade, dizendo apenas o que os portugueses pensam, dizendo apenas que à mulher de César não basta ser séria, deve também parecê-lo. O povo gostou. E, como sempre, quando o povo gosta o poder não gosta.

A Polícia Judiciária diz que o que deve dizer. Ou seja, que o Governo nunca lhe deu instruções. Pois. Só acredita quem quer. O Governo escolhe, legitimamente, gente da sua confiança. E, é claro, espera que ninguém vá cuspir no prato onde come. E se a escolha tiver sido bem feita, nem precisa de dar instruções.

Esta história faz, aliás, lembrar-me uma outra passada nas terras do fim do mundo. Em Angola, um Chefe de Posto (autoridade colonial nos pontos mais recônditos do território) chamou um sipaio da sua confiança e disse-lhe para arranjar alguns voluntários para fazer umas obras na localidade.


Horas depois o sipaio chegou e disse ao Chefe de Posto:

“- Estão lá fora os voluntários… devidamente amarrados”.

Quero com isto dizer, permitam-me que seja explícito, que muitos dos súbditos de sua majestade o poder estão sempre, estarão sempre, onde o capataz quer que eles estejam, mesmo que este não lhes tenha dado instruções…

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