Não se matem, mas matem!

Enquanto há líderes como Alexandre Soares dos Santos (Jerónimo Martins) que têm orgulho em dizer, e praticar, que "mantemos a política de não despedir se houver crise", muitos patrões aproveitam a crise para se livrarem dos competentes, dos que têm coluna vertebral.

Vem isto a propósito de um relatório da Inspecção do Trabalho que investiga a onda de suicídios de trabalhadores da France Telecom, e que acusa antigos dirigentes de topo de nada fazerem perante as consequências, suicídios de muitos trabalhadores, do seu plano de reorganização da empresa.

O documento indica que os últimos suicídios na France Telecom "não são casos particulares" e estão relacionados com a "política de reorganização e gestão" posta em marcha a partir de 2006.

Em Portugal, onde as políticas de reorganização apenas têm servido para substituir trabalhadores competentes por néscio com cunha ou cartão do partido no poder, os despedidos não se suicidam embora vão morrendo mais ou menos lentamente.

O diário francês Le Parisien publicou excertos do relatório, enviado para a Procuradoria de Paris, no qual a inspectora Sylvia Catala fala de "assédio moral" no seio do operador francês de telecomunicações.

Segundo a responsável, os mais altos cargos da empresa foram alertados "em diversas ocasiões" por médicos, sindicalistas e inspectores laborais sobre "os efeitos na saúde dos trabalhadores" que estava a ter a política de reorganização da empresa.

Lá, tal como cá, os avisos não contam. O que importa é mandar os trabalhadores para o desemprego de modo a que, pela reestruturação, os patrões fiquem cada vez mais ricos.

Apesar disso, acrescenta o relatório, foram apenas aplicadas medidas para remediar o "sofrimento" do pessoal. As acusações dirigem-se, em concreto, contra três directores, entre eles, o antigo presidente Didier Lombard, recentemente substituído no cargo por Sthéphane Richard.

É por isto que me parece legítimo dar um conselho: não se matem, mas matem. Entre dar um tiro na própria cabeça e um na cabeça dos responsáveis... a solução parece-me simples.