O arcebispo
de Braga (Portugal), Jorge Ortiga, confessou que quase se engasgou quando hoje
tomava o pequeno-almoço e leu que o antigo presidente do BCP, Jardim Gonçalves,
recebe uma reforma de cerca de 175 mil euros.
Acredito que
o valor provoque uma tal reacção. Mas não é com Jardim Gonçalves que Jorge
Ortiga se deve engasgar, a não ser que tenha contas pendentes com o BCP. Embora
seja imoral, embora seja dinheiro que em parte também é pago pelos portugueses,
é mias um problema dos accionistas do banco.
Jorge Ortiga
deveria engasgar-se, isso sim, com os milionários salários dos gestores
públicos, e outros similares, que se amamentam à custa dos 20% de portugueses
que são pobres e de outros tantos cujo único objectivo de vida é, nesta altura,
ter alguma coisa para pôr no prato, nem que seja apenas uma vez por dia.
Deveria
engasgar-se com as malfeitorias dos portugueses de primeira do tipo Cavaco
Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro,
Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira
Amaral, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista,
Ascenso Simões, António Mexia, Faria de Oliveira ou Eduardo Catroga.
Deveria
engasgar-se com o primeiro-ministro do seu país que continua a sua luta, com visível êxito, para colocar Portugal cada vez mais perto do
norte… de África.
Em Portugal,
para além dos milhões que legitimamente só se preocupam em encontrar alguma
coisa para matar a fome, nem que seja nos restos deixados pelos cães dos donos
do reino, uma minoria privilegiada só se preocupa em ter – com a preciosa ajuda
do Governo - mais e mais, custe o que custar.
Como pessoa
de bem que é, Jorge Ortiga ainda é dos poucos que se engasga com estas coisas. Há
muito engasgado, continuo a recordar Frei João Domingos que afirma: "não
nos podemos calar mesmo que nos custe a vida".
Adaptando de
novo, e tantas vezes quantas forem preciso, Frei João Domingos, em Portugal
"muitos governantes, gestores, administradores e similares têm grandes
carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente
reluzentes mas estão podres por dentro".
Mas esses,
apesar de podres por dentro, continuam a viver à grande e à PSD, enquanto o
Povo se prepara para morrer de fome ou de falta de assistência médica. O tempo
em que o mais importante era resolver os problemas do povo, já lá vai. Os políticos anteriores preparam o
cemitério e Passos Coelho deu-lhe o
golpe de misericórdia.
Tal como
muitos dos políticos que passaram pelo reino lusitano, Passos Coelho continua a
pensar que Portugal é o seu PSD (que nada tem a ver com o de Francisco Sá
Carneiro) e que o PSD é Portugal.
E como pensa
assim, o que sobra dos abundantes regabofes dos gestores, administradores e
similares pagos com o dinheiro dos portugueses, não vai para os escravos, mas
sim para os rafeiros que gravitam sempre junto à manjedoura do poder.
E por que
não vai para os pobres?, perguntam vocês, eu também, tal como os milhões de
engasgados que todos os dias passam fome. Não vai porque, tanto nas teses de
Passos Coelho como nas de Cavaco Silva, ou nas de António Mexia, não há pobres
em Portugal.
Aliás, como
é que poderia haver fome se (ainda) existe fartura de farelo? Se os porcos
comem farelo e não morrem, também o Povo português pode comer. Ou não será
assim. D. Jorge Ortiga?
Embora seja
um exercício suicida, importa aos (ainda) vivos não se calarem, continuando a
denunciar as injustiças, para que Portugal possa novamente abolir o
esclavagismo e, dessa forma, ser um dia um país diferente, eventualmente uma
nação e quiçá até uma pátria.
O Povo sofre
e passa fome. Os países valem, deveriam valer,
pelas pessoas e não pelos mercados, pelas finanças, pela corrupção, pelo
compadrio, pelas negociatas.
É por tudo isto
que a luta continua. Tem de continuar. Até porque, mais cedo ou mais tarde, a
Primavera também vai iluminar (mesmo contra a vontade de António Mexia e da sua
EDP) as ruas de Lisboa e chegar ao resto do país.
Enquanto os
escravos não se revoltarem, os donos do país e os donos dos donos (do tipo
António Mexia) vão continuar a vestir
Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna e comprar relógios de ouro Patek Phillipe e
Rolex.
E enquanto
os escravos se engasgam com a fome, os políticos e os mexiânicos peritos do
reino vão continuar a ter à mesa trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro
assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com
espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas
caramelizadas, e várias garrafas de Château-Grillet 2005.
Passos
Coelho, tal como António Mexia, sabe que os portugueses são – citando Guerra
Junqueiro – “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista
e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas,
feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum
coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas”.
Passos
Coelho, tal como António Mexia, sabe que os portugueses são – citando Guerra
Junqueiro – “um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem,
nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e
é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo
misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa
morta”.
Passos
Coelho, tal como António Mexia, sabe que em Portugal existe – citando Guerra
Junqueiro – “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não
discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter,
havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em
pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da
mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política
sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos”.
Passos
Coelho, tal como António Mexia, sabe que em Portugal existe – citando Guerra
Junqueiro – “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este
criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela
abdicação unânime do País”.
Entretanto,
alguns portugueses (não tantos quanto o necessário) sabem que – citando Guerra
Junqueiro – Portugal tem “partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas
palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo
zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no
parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”.
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