O líder da
bancada do PS veio agora mostrar que o seu partido continua a confundir a
estrada da Beira com a beira da estrada.
Carlos
Zorrinho, na linha de Francisco Assis e Sérgio Sousa Pinto, veio hoje defender que
o deputado socialista Ricardo Rodrigues demonstrou “sentido de
responsabilidade” ao demitir-se da direcção do grupo parlamentar, depois de ter
sido condenado num processo em que roubou os gravadores aos jornalistas da revista
Sábado.
Para mim, Carlos Zorrinho deveria defender que Ricardo
Rodrigues merecia uma medalha pelos bons serviços prestados ao partido e não,
num manifesto acto de hipocrisia política, renunciar também às suas funções de
representação da Assembleia da República no Conselho Geral do Centro de Estudos
Judiciários (CEJ) e ao lugar de suplente no Conselho Superior de Informações.
“Estamos
perante uma posição do deputado [Ricardo Rodrigues] que fez aquilo que se
impunha e que nós registamos como mais uma demonstração de grande sentido de
responsabilidade”, declarou o presidente do grupo parlamentar do PS.
Ora, ora!
Agora que Ricardo Rodrigues precisava que o PS se unisse para o ajudar a chegar
mais longe, eventualmente a presidente da ERC, vem Zorrinho elogiar a sua
atitude. Francamente.
Carlos
Zorrinho esqueceu-se que Ricardo Rodrigues apenas deu mais uma demonstração
inequívoca de que em Portugal não há falta de liberdade... nem que seja para
afanar os gravadores dos jornalistas?
Carlos
Zorrinho não se recorda que Ricardo Rodrigues explicou na altura que “tomou
posse”, de forma “irreflectida”, dos dois gravadores porque foi exercida sobre
ele uma “violência psicológica insuportável”?
Carlos
Zorrinho esqueceu-se que, na própria Assembleia da República, Ricardo
Rodrigues, acompanhado pelo então líder
parlamentar e posterior candidato à liderança do partido, Francisco Assis, e
por um outro membro da direcção do grupo, Sérgio Sousa Pinto, justificou a sua
“tomada de posse” (não como deputado mas como tomador de posse de gravadores
alheios) pelo “tom inaceitavelmente persecutório” das perguntas e pelos “temas
e factos suscitados, falsos e mesmo injuriosos”?
“Porque a
pressão exercida sobre mim constituiu uma violência psicológica insuportável,
porque não vislumbrei outra alternativa para preservar o meu bom nome, exerci
acção directa e, irreflectidamente, tomei posse de dois equipamentos de
gravação digital, os quais hoje são documentos apensos à providência cautelar”,
justificou na altura Ricardo Rodrigues, certamente convicto que este ou
qualquer outro Zorrinho estaria sempre solidário consigo.
Carlos
Zorrinho deveria, aliás, reafirmar que é graças também a esta original forma de
“tomar posse” do que é dos outros, que Portugal, é um exemplo em matéria de
liberdade de imprensa.
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