O regime
angolano, ou seja o MPLA, começa agora a pôr ainda mais a razão da força acima
da força da razão, musculando as acções de intimidação.
É sinal claro que teme que, ao contrário de 2008,
desta vez os mortos se recusem a votar no MPLA. Pela via do voto, mesmo
considerando que - como nas anteriores eleições - os observadores vão ser
maioritariamente comprados, o regime teme uma derrota.
De facto, quando
o partido que governa Angola desde 11 de Novembro de 1975, que tem como seu
líder carismático e presidente da República alguém que está no poder há 33
anos, sem ter sido eleito, sente necessidade de usar a intimidação violenta é
porque a ditadura dá sinais de fraqueza.
Tal como já
fizera em Setembro do ano passado, o regime considera que a situação
"inspira cuidados especiais". Diz o MPLA (ou seja o regime) que tal
como a UNITA, também os restantes partidos querem "derrubar o MPLA e o seu
líder, José Eduardo dos Santos".
E porque o
regime só reconhece a existências de um único deus, Eduardo dos Santos, não
admite que existam dúvidas, não aceita que a sua liberdade termina onde começa
a do Povo. Vai daí, espanca, rapta e mata quem tiver a veleidade de contrariar
o “querido líder”.
Como dizia o
bispo emérito de Cabinda, Paulino Madeca, “quando um político entra em conflito
com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade, torna-se um eterno ditador”.
É o que está a acontecer com Eduardo dos Santos e com todo o séquito que mama
na mesma gamela.
Por alguma
razão Bento Bento continua a pedir aos militantes do seu partido para que
controlem "milimetricamente" todas as acções da oposição, para não
serem "surpreendidos".
De acordo
com o governador de Luanda, a oposição (são todos os que não dizem ámen ao
MPLA) decidiu enveredar por "manifestações violentas e hostis, provocando
vítimas, inventando vítimas, incentivando a desobediência civil, greves e
tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras,
garrafas e paus".
Que bandidos
são estes tipos da oposição! E então quando Eduardo dos Santos descobrir que
Filomeno Vieira Lopes, Luís Araújo, Alcides Sakala, Lukamba Gato, Rafael
Marques, Isaías Samakuva, Abel Chivukuvuku, Abílio Camalata Numa, William
Tonet, Justino Pinto de Andrade e tantos outros, têm em casa um arsenal de Kalashnikov,
mísseis Stinguer e Avenger, órgãos Staline, katyushas, tanques Merkava e muito
mais…
O MPLA diz
que tem em seu poder “informações secretas que apontam que a UNITA e outros opositores
estão prestes a levar a cabo um plano B".
Este plano
prevê, segundo os etílicos delírios dos dirigentes da ditadura angolana, "uma insurreição a nível nacional, tipo
Líbia, Egipto e Tunísia", sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla,
Benguela e Uíge as visadas.
Sempre que
no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade
de alguma mudança, o regime dá logo
sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver a UNITA, só e
ou em coligação, a governar o país.
Para além do
domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o
MPLA aposta forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no
clima de terror e de intimidação.
No início de
2008, notícias de Angola diziam que, no Moxico, “indivíduos alegadamente
nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”.
Disparate?
Não, de modo algum. Aliás, um dia destes vamos ver por aí Kundi Paihama, como
agora fez Bento Bento, afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam
ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA.
E, na
ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime,
são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada, tão do agrado das
potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o
perigo de terrorismo, de guerra civil.
Kundi
Paihama, um dos maiores especialistas de Eduardo dos Santos nesta matéria, não
tardará a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a
UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar
contra o MPLA vai para a cadeia, certamente comer farelo.
Tal como
mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às
enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou ganha ou será o fim
do mundo.
Além disso,
nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por
todo o país bandos armados que precisam de ser neutralizados.
Aliás, como
também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar
uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também
todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA e os seus aliados serão culpados até
prova em contrário.
Numa
entrevista à LAC - Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, o então
ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA mantinha
armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de voltar
à guerra.
Kundi
Paihama, ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do
MPLA, "se têm armas", não é para "fazer mal a ninguém" mas
sim "para ir à caça". Ora aí está. Tudo bons rapazes.
Quanto aos
antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse que a conversa era outra e
lembrou que mais cedo ou mais tarde vai ser preciso falar sobre este assunto.
Na
entrevista à LAC, Kundi Paihama disse textualmente: "Ainda hoje se está a
descobrir esconderijos de armas".
O regime
reedita agora, obviamente numa versão acrescentada e melhorada, as linhas
estratégicas de um documento datado de 20 de Março de 2008, então elaborado
pelos Serviços Internos de Informação, SINFO.
Na cruzada
actual, como nas anteriores, estão os turcos do regime: Kundi Pahiama, Dino
Matross, Bento Bento e Kwata Kanawa, com os meios de comunicação do Estado.
“A situação
interna não transparece em bons augúrios para o MPLA, devido a várias manobras
propagandísticas por parte dos partidos da oposição e de cidadãos independentes
apostados em incriminar o Partido no Poder para fazer vingar as suas posições
mercenárias junto da população civil e das chancelarias e comunidade
internacional”, lia-se na versão de 2008 do documento do SINFO que, como
reedita hoje, propunha o seguinte plano operacional:
“1- Iniciar
de imediato uma onda propagandística sobre a UNITA e os seus dirigentes nos
órgãos de comunicação social, relacionados com a descoberta de novos paióis de
armamento nas províncias e denegrir a imagem de dirigentes como Abel
Chivukuvuku, Carlos Morgado, Alcides Sakala e Isaías Samakuva, com notícias com
carácter escandaloso como contas bancárias no exterior, contactos com serviços
secretos estrangeiros e também de espancamento de mulheres e crianças junto do
núcleo familiar destes mercenários oposicionistas.
2- Avançar
com processos criminais sob denúncia de elementos da população que podem
compreender acusações de violações de menores, tráfico de influências em
negócios ilegais e transacção ilegal de diamantes e indivíduos como William
Tonet, Filomeno Vieira Lopes, Rafael Marques, Alberto Neto e Carlos Leitão.
3- Aumentar
a vigilância pessoal sobre os dirigentes da cúpula da UNITA e as escutas
telefónicas em curso desde o nosso Departamento de Comunicações e reactivar as
células-mortas de informadores no interior do Galo Negro sendo para isso
necessário um plafond financeiro urgente.
4- Expulsar
do território nacional, pelo menos seis ONG já identificadas em relatórios
anteriores por operância de contactos em Luanda e nas capitais provinciais com
elementos conotados com a cúpula da UNITA.
5- Reactivar
as Brigadas Populares de Vigilância nos bairros de Luanda e nas capitais
provinciais em acto paralelo com a distribuição de armamento ligeiro aos seus
efectivos para defesa da população civil.”
Afinal, na
História recente (desde 1975) do regime angolano, nada se perde e tudo se
transforma para que os mesmos continuem a ser donos do poder e, é claro, de
Angola.
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