terça-feira, junho 19, 2012

Escravos ilibam o seu dono



Diz o jornal Sol que, para espanto de todos, os técnicos da ERC concluíram que Miguel Relvas não tentou pressionar o jornal Público. 

Amanhã o relatório desses técnicos da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) vai ser avaliado pelo conselho liderado por Carlos Magno e, digo eu, imediatamente assinado embora com algumas alterações de pontuação. 

Diz o jornal que a ERC não deu como provadas as pressões que a jornalista de política do Público, Maria José Oliveira, denunciou e, segundo as quais, o ministro a ameaçou de revelar dados da sua vida privada caso publicasse uma notícia sobre o seu envolvimento no caso das secretas. 

Para ser aprovado, o relatório precisa de reunir apenas três dos votos dos cinco vogais do Conselho Regulador. A não haver unanimidade será apenas por uma questão de querer dar um cunho de seriedade a uma organização cuja honorabilidade cabe na mão de um maneta. 

Este é mais um caso em que o dono deu o veredicto e depois determinou que os escravos encontrassem, ou produzissem, matéria de facto que sustentasse essa sentença. Também aqui não se trata de uma inversão das regras de um Estado de Direito mas, apenas, da constatação de que esse Estado de Direito não existe. 

E como em qualquer democracia, em qualquer Estado de Direito, se o presidente de uma empresa pública pode sempre dizer “é assim que eu quero e é assim que vai ser", porque carga de chuva um ministro (que ainda por cima, segundo o presidente da ERC, usa uma gravata bonita) não pode também dizer “é assim que eu quero e é assim que vai ser"? 

Acresce que estamos um falar de uma espécie de país onde um deputado rouba gravadores aos jornalistas, no caso Ricardo Rodrigues, do Partido Socialista, onde um ministro (Miguel Relvas) que – segundo o meu “jornalismo interpretativo” - quer domar (como advoga Fernando Lima, conselheiro de Cavaco Silva) os jornalistas, onde uns tantos sipaios de serviços na ERC se limitam a ser o que os donos mandam. 

Como muitos sabem mas poucos recordam, em tempos recentes ficou a saber-se que Carlos Magno ia ser o presidente da ERC. De acordo com uma coisa irrelevante e apenas formal, a Lei, o presidente da ERC deveria ser cooptado pelos quatro elementos a designar pelo Parlamento. 

Apesar disso, PS e PSD não perderam tempo. Consumaram a escolha e os paspalhos que vierem a ser designados partidariamente pela Assembleia da República tiveram de comer e calar… a bem de mais um tacho. 

E é por isso que os membros da ERC nunca vão cuspir no prato que lhes dá tanta comida. Mas o que seria de esperar de tantos analfabetos funcionais (sabem ler e escrever mas não lêem nem escrevem)?

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