Isaías
Samakuva luta para derrotar o MPLA ou apenas para vencer Abel Chivukuvuku? A
dúvida recorda-me a corrida, ou passeata, para a liderança da UNITA.
Tudo porque Samakuva
queria (e assim aconteceu) que o Galo Negro continuasse bem alimentado (com
lagosta) mas sem voar, enquanto José
Pedro Cachiungo queria que ele voasse cada
vez mais alto (mesmo que só comendo mandioca).
O
"grande inimigo" de Angola hoje é "o medo que se instalou na
consciência das pessoas", considerou na altura, em entrevista à Agência
Lusa, José Pedro Cachiungo.
"O
regime do MPLA é um regime astuto. E uma das características do regime, que é
uma das vitórias e que vai ser também a derrota, é a capacidade que teve de
tirar a política da consciência das pessoas e colocar a política no
estômago", disse.
Antigo director
de gabinete do fundador do partido, Jonas Savimbi, Cachiungo, de 48 anos,
escolheu concorrer à liderança porque, afirmou, "a vocação da UNITA não é
de ser um partido da oposição, e a liderança da UNITA tem que ter uma visão que
não se deve contentar com aquele tipo de adjectivo que se coloca a esta figura:
maior partido da oposição, principal partido da oposição. Este não é o nosso
ponto de chegada".
Para mim
existem dois princípios que continuam a ser basilares e que também o eram (será
que ainda o são?) para a União Nacional para a Independência Total de Angola: é
a ética que deve dirigir a política, e as batalhas ganham-se ou perdem-se por
causa dos generais, nunca por causa dos soldados.
Os
resultados das últimas eleições não revelaram propriamente uma derrota. Foram,
importa que todos o reconheçam, uma humilhação nacional e internacional. É
claro que, como dizia o Presidente Jonas Savimbi, só é derrotado quem deixa de
lutar. Era, por isso, necessário que a UNITA continuasse a luta depois, é
claro, de pôr a casa em ordem. Coisa que ainda não conseguiu fazer.
E pôr a casa
em ordem significava fazer contas, sérias e honestas, ao facto de com essa
derrocada, a UNITA ter atirado centenas, ou milhares, dos seus quadros para as picadas
minadas pelo desespero.
Embora seja
ponto assente que houve fraude, manipulação e outros estratagemas por parte do
MPLA, desde 1992 que se sabia que isso voltaria a acontecer logo que houvesse
eleições. Tal como se sabe que vai acontecer no dia 31 de Agosto. E se durante
a guerra não foi possível pensar nisso, os últimos anos de paz deram, deveriam
ter dado, tempo para que a UNITA se preparasse para o que já sabia e sabe que vai
acontecer.
E, mais uma
vez, o exemplo devia partir de cima. Não basta que Isaías Samakuva assuma a
responsabilidade política pela catástrofe. Ele tinha de dar o exemplo. Exemplo
ético de que mandou o seu “exército” pela caminho errado pelo que, como em tudo
na vida, deveria há muito ter abandonado a chefia.
Se em
qualquer guerra, até mesmo nas muitas que a UNITA travou em prol dos angolanos,
os generais que falharam foram punidos,
a situação actual era, ou deveria ter sido, a mesma.
Aliás, se a
UNITA responsabilizasse quem falhou, por muita honestidade que tenha posto na
luta, estaria a dar um bom exemplo aos angolanos para que estes percebam que,
afinal, existia uma substancial diferença entre a democracia que a UNITA defende
e a que é imposta pelo MPLA.
É que, no
tal contexto da ética, Samakuva e os seus pares não podem dizer que Eduardo dos
Santos devia ser substituído porque cometeu muitos e graves erros (que de facto
cometeu) e, apesar de terem também cometido muitos e graves erros, quererem
continuar no poder como se nada se tivesse passado.
E se a UNITA
queria ser diferente (para muito melhor, entenda-se) do MPLA, não pode usar a
máxima “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos”.
Importa igualmente
recordar agora, e mais uma vez, que Samakuva (mesmo que tenha sido alguém por
ele não o iliba) afastou da direcção do partido quadros que, na minha óptica,
constituíam não só mas também a nata da UNITA. A tendência para substituir a
competência pela subserviência deu no que deu. Uma catástrofe.
Terá sido
por isso, estou em crer, que os subservientes colaboradores do Presidente o
aconselharam a esquecer as zonas que eram, chamemos-lhe assim, afectas ao Abel
Chivukuvuku (Lundas, Moxico, Namibe, Cabinda, Malange).
Vejam-se
alguns exemplos que revelaram boa vontade mas que, na verdade, só serviram para
que o MPLA comesse a UNITA de cebolada.
A campanha anterior
foi coordenada por Abílio Camalata Numa, secretário-geral, que da matéria pouco
sabia pois, em 1992, integrava as Forças Armadas de Angola. Adalberto da Costa
Júnior, que foi responsável pela informação, em 1992 estava em Portugal.
Domingos Maluka, figura de destaque na campanha e vice-presidente da bancada
parlamentar, era em 1992 militante da JMPLA. Aliás, o próprio Isaías Samakuva
estava nessa altura em Londres
Recordam-se dos
tempos em que o porta-voz UNITA-Renovada para a Europa, Baltazar Capamba, abriu
caminho ao encontro, em Paris, entre o enviado do MPLA e Isaías Samakuva que,
desde sempre, foi considerado por Eduardo dos Santos o político ideal para
liderar a UNITA depois da morte de Savimbi?
Alegaram os
defensores de Samakuva que as listas da UNITA revelaram uma grande
democraticidade e transparência. No entanto, ainda não percebi (é certamente
falha minha) como é que Adalberto da Costa Júnior que venceu no círculo
nacional pela Huíla surgiu como cabeça
de lista por Luanda, ou como o general Demosthenes Amos Chilingutila, que
entrava no círculo eleitoral do Namibe aparecia como o coordenador da campanha
eleitoral da UNITA em Luanda.
Também ainda
não percebi (é certamente falha minha), como é que nas listas da UNITA
apareceram tantos nomes de familiares de figuras influentes e outros,
verdadeiros “generais” que seriam decisivos para vencer esta batalha, ficaram
de fora.
É que
ficaram de fora os que estiveram presentes, e sobreviveram, em 1992 e que por
isso estavam mais do que qualquer outros habilitados a saber o que o MPLA iria
novamente fazer em 2008 e repetir em 2012.
Em 13 de
Setembro de 2008 perguntei aqui no Alto Hama: O que é feito (e porque razão
foram afastados ou semi-afastados) de Carlos Kalitas, José Pedro Cachiungo,
Marcial Dachala, Carlos Morgado, Urbano Chassanha, Tito Kandongo, Luís Kissanga
ou até mesmo Samuel Chiwale?
A resposta
vai chegar depois de 31 de Agosto, se calhar pela boca do próprio Abel Chivukuvuku.
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