segunda-feira, junho 25, 2012

Farelo sim, censura não!



O ministro português das Finanças, tal como o Governo,  é dono da verdade. Quem pensar o contrário ainda não é mas poderá um dia destes ser acusado de crimes contra o Estado.

Então não é que, segundo Vítor Gaspar, apresentar uma moção de censura ao governo é o mesmo que optar "pela irresponsabilidade e pela bancarrota"? Ficou hoje a saber-se que. segundo o ministro, insistir na reestruturação da dívida pública é um crime porque essa opção, garante, foi rejeitada em eleições.

Creio que Vítor Gaspar se referia às eleições em que Pedro Passos Coelho mentiu descaradamente aos portugueses tendo, é claro, como único objectivo chegar à gamela.

Durante o debate da moção de censura do PCP ao Governo, no Parlamento, Vítor Gaspar acusou os comunistas de fazerem tudo para quebrar o "ambiente de paz e diálogo social" em Portugal, que apontou como indispensável para o sucesso do país.

Por outras palavras, quem se atrever a defender os escravos e a lutar contra a institucionalização do esclavagismo está, inequivocamente, a destruir o "ambiente de paz e diálogo social" em que vivem os portugueses que estão quase a saber viver sem comer e, ainda, a morrer sem ir ao médico.

Diz o impoluto ministro que o Governo PSD/CDS-PP conseguiu um "progresso" na correção dos desequilíbrios macroeconómicos e dos níveis de endividamento "digno de registo" e uma "redução significativa dos diferenciais de juros da dívida pública portuguesa".

Também conseguiu criar um milhão e duzentos mil desempregados, 20 por cento de miseráveis e outros tantos que já empenharam aquelas coisas que não servem para nada: os pratos.

Vítor Gaspar, com aquele angelical ar de quem não faz mal (e não faz mesmo) aos… seus,  considerou que o Governo tem de gerir permanentemente "riscos e incertezas consideráveis", que nunca escondeu dos portugueses, e acrescentou: “Se o sucesso for certo, a crise estará ultrapassada. Se o fracasso for certo, não teremos apenas crise, mas antes uma catástrofe".

E no caso de catástrofe, que já está aí ao virar da esquina, os acólitos de Passos Coelho lá terão, com visível sacrifício, de se juntar aos pobres do reino, onde já estão – entre outros - Cavaco Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões, António Mexia, Faria de Oliveira e Eduardo Catroga.

Segundo Vítor Gaspar, o PCP insiste  "na sua estratégia errada e irresponsável" de "reestruturação da dívida", mas "o país rejeitou e continua a rejeitar a opção pela irresponsabilidade e pela bancarrota".

Tem razão. Os portugueses não vão na cantiga do PCP. Aliás, já nem voz têm para cantar. Estão solidários com um governo que os pôs a sonhar com refeições, a viver de farelo e morrer em silêncio.

O ministro das Finanças alegou que essa opção "penalizaria os mais desfavorecidos e os mais vulneráveis" e levaria a "um brutal e imediato empobrecimento do país" e acusou os comunistas de esconderem "estes custos brutais, revelando uma indiferença irresponsável pelos resultados concretos".

Mais uma vez Vítor Gaspar tem razão. Se para resolver a situação num ano é preciso que os escravos portugueses só tenham uma refeição por dia, porque carga de chuva não pode o governo resolver o problema em meio ano, obrigando os cidadãos viver sem nenhuma refeição durante esse tempo?

Do alto da sua douta sabedoria, Vítor Gaspar garantiu que o Governo não desiste, não esconde "custos, riscos e incertezas" e vai continuar a trabalhar para recuperar "bases de confiança e credibilidade para superar a crise".

Credibilidade bem visível na tese, entre outras, do primeiro-ministro quando disse que “que ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam”, acrescentando que “os que têm mais terão de ajudar os que têm menos”.

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