Correspondendo
ao sentimento de muitos portugueses, o treinador Manuel José criticou a forma como
tem decorrido a preparação de Portugal para o Euro 2012, qualificando-a como
"um circo autêntico".
No dia 10 de
Fevereiro de 2008, o Presidente da República, Cavaco Silva, defendeu que
Portugal tem "outras prioridades" e que já tinha levantado
reticências à organização do Campeonato do Mundo de futebol quando era
primeiro-ministro.
Mas que chatice.
Portugal deveria organizar tudo e mais algumas coisa que respeite a essa
transparente, impoluta e dignificante indústria do futebol. Quanto mais não
fosse serviria para construir mais uns campos de futebol e para, dessa forma,
compensar – por exemplo - o fecho das urgências.
Na altura, Cavaco
Silva admitiu que "Portugal está agora mais desenvolvido", embora
tenha "outras prioridades nacionais".
Outras
prioridades? Que prioridades? Futebol é o que está a dar, mesmo que os estádios
estejam às moscas, mesmo que os craques continuem a rematar com “o pé que têm
mais à mão…”
"Quando
era primeiro-ministro, já o problema da realização de um Mundial de futebol se
tinha colocado ao Governo. Na altura, colocámos algumas reticências",
explicou o Presidente da República, comentando a possibilidade de Portugal
poder candidatar-se à organização do campeonato de 2018.
Creio que
Cavaco Silva está (tal como faz no resto) a chutar a bola com o mão errada. Se
é uma questão de se saber se Portugal tem recursos, é óbvio que tem. Basta ver
o que se poupa com o fecho das urgência e dos serviços de atendimento
permanente.
Além disso,
num país que já tem a alma pouco sã e no prego, importa fazer tudo para que
tenha o corpo inteirinho a chafurdar na merda. E se, a par do fado e de Fátima,
é de futebol que o povo gosta, acho que não se pode perder a possibilidade de
pôr Portugal no “Guiness Book” como o país com mais estádios de futebol por
metro quadrado.
Há, com
certeza, quem hoje volte a pensar, ou a dizer, que “só os espíritos cretinos e
obtusos pensam que receber um clube numa câmara é sinal de promiscuidade”.
Cada vez
mais os camarotes dos estádios dos grandes clubes de futebol são os lugares
onde também se vêem mais políticos por metro quadrado.
Tenho
dúvidas que todos esses políticos sejam adeptos do futebol e muito menos do
desporto, mas o que importa é estar ao lado de um campeão. E consoante muda o
campeão mudam-se os panegíricos. Portugal é mesmo assim.
Quando algum
político resolve separar o trigo do joio, ou seja o futebol da política, o
Carmo e a Trindade ameaçam cair. Não caem mas nasce, e de que maneira, a sarna
que põe esses políticos com enorme coceira.
Mas será
que, mesmo com os portugueses sem saberem se ainda têm pescoço, vale a pena
tentar moralizar o que não é passível de ser moralizado, como é a política e o
futebol?
Não, não
vale a pena. Olhem para os tais camarotes e ficam a perceber que a
promiscuidade é de tal ordem que não se sabe quem é quem, quem representa o
quê.
Aliás, como
nos recorda a história, foi essa promiscuidade que fez com que o macaco acabasse
por “comer” a mãe. Mas hoje nem isso é problema... desde que não se saiba.
De há muito
que os portugueses se habituaram a ver os agentes da vida pública todos
misturados numa orgia colectiva que, cada vez mais, mostra que a moralidade e a
equidistância são valores pouco relevantes para um país que está acostumado a
jogar no sistema de todos a monte e fé em Deus.
Para
comprovar tudo isso nem é preciso apelar à memória (também ela um valor
irrelevante na sociedade), basta de facto – sobretudo em Lisboa e no Porto -
olhar todas as semanas para as bancadas VIP dos estádios de futebol.
Políticos
pigmeus e pigmeus políticos (entre outros) lá estão, a propósito de tudo e de
nada, em bicos de pés para que todos os vejam.
Num país de
aparências, que melhor montra poderá querer um qualquer político pigmeu ou um
pigmeu político?
Dir-se-ia
que, mais uma vez, não basta ser sério. Também é preciso parecê-lo. Mas,
infelizmente, algumas das nossas figuras públicas nem são sérias nem parecem
sê-lo. Nem estão, acrescente-se, preocupadas com isso.
Se, em
matéria de futebol, Portugal tem o que merece, na política também não anda
longe. O importante, ao que parece, não é o país real (doente, vilipendiado,
maltratado, prostituído) mas, isso sim, tudo o que é marginal e que serve às
mil maravilhas para enganar o povo.
Discutir o
essencial? Para quê? Sim, para quê se, mais coisa menos coisa, todos ficamos
saciados com a discussão do acessório?
É claro,
digo eu e mais meia dúzia de cépticos, que os políticos deveriam analisar o
essencial, ou sejam as pessoas. Então porque carga de água não o fazem? A minha
teoria continua a ser a mesma: Enquanto este país não instituir o primado da
competência em vez do da subserviência, não vai lá.
É por isso
que os políticos se limitam a ver para que lado vai o fumo dos eléctricos, a
idolatrar o futebol e a andar calçados para não se ver que têm as meias rotas.
Por alguma coisa são bem coadjuvados por assessores (ou sei que alguns são
supostamente jornalistas) que confundem o violino comprado na Feira da Ladra
com um Stradivarius.
Entretanto,
o Zé povinho continua a pagar as facturas. As facturas do futebol milionário,
dos políticos palermas mas igualmente bem pagos, dos capatazes também
analfabetos e também razoavelmente bem pagos, etc. etc..
E depois
falam de crise. Em crise andam milhares e milhares de portugueses, há muitos,
muitos anos. Até um dia, espero eu.
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