Na prisão há
o que falta cá fora. Comida e cama. Se calhar mais vale do que ser livre e
andar com a barriga vazia e dormir debaixo da ponte.
O alto
representante do secretário-geral das Nações Unidas para a Aliança das
Civilizações, Jorge Sampaio, considera que o “medo, desconfiança e
ressentimentos” provocados pela crise são uma “mistura explosiva” que é preciso
resolver.
O também
(entre outras coisas) ex-presidente da República de Portugal não está a ver bem
a coisa. Não está, pelo menos, a ver com os mesmos óculos do governo de Pedro
Passos Coelho.
Os
portugueses não têm, aliás, razões para ter “medo, desconfiança e
ressentimentos”. Ainda hoje foi revelado pelo Eurostat que Portugal continua a
registar uma subida da taxa de desemprego, que em Abril se fixou nos 15,2%, uma
décima acima do mês anterior, tendo o desemprego jovem aumentado para os 36,3%...
“Costumo
dizer que esta crise não é só uma questão de números, de orçamento e de
financiamentos. No centro da crise estão pessoas – pessoas que temem pelos seus
empregos, que receiam pelo seu futuro; no centro da crise estão cidadãos que
começam a ficar dominados pelo medo, pela desconfiança e pelo ressentimento,
uma mistura explosiva a que há que saber dar resposta”, disse à Lusa Jorge
Sampaio.
Se calhar
devido ao facto de andar em missões da ONU, Jorge Sampaio está longe, muito
longe, da realidade portuguesa. É pena. Se assim não fosse saberia, pelo menos,
que para os donos do poder em Portugal as pessoas são o que menos conta. E se
contassem seria um problema de resolução natural. Como estão, por ordem do
governo, a aprender a viver sem comer… vão mais dia menos dia morrer.
Voltemos à “cultura
de risco” e à grande oportunidade que, segundo Passos Coelho, são sinónimos de
desemprego. A taxa de entre os jovens com menos de 25 anos subiu, entre Março e
Abril, sete décimas, dos 35,9 para os 36,6%, sendo este novo valor mais de oito
pontos percentuais superior àquele que se observava um ano antes (28,5), o
maior aumento na União Europeia.
Conclui-se
que, nesta vertente, a “cultura de risco” continua pujante, dando razão ao sumo
pontífice do reino lusitano.
Em termos
gerais, o desemprego continua a sua trajetória ascendente em Portugal (era de
13,6% em Outubro de 2011, 14,1 em Novembro, 14,6 em Dezembro, 14,7 em Janeiro
deste ano, 14,8 em Fevereiro e 15,1 em Março) e a taxa é actualmente apenas
inferior às de Espanha (24,3%) e Grécia (21,7 em Fevereiro), estando – o que
será certamente um motivo de satisfação - a par da Letónia (dados do primeiro
trimestre de 2012).
Na zona
euro, manteve-se nos 11% em Abril, estável relativamente ao mês anterior, e no conjunto
da União Europeia subiu de 10,2 para 10,3%.
Nas suas
"previsões da Primavera", divulgadas em Maio, a Comissão Europeia
estimou que a taxa de desemprego em Portugal se fixe nos 15,5% este ano,
diminuindo apenas para 15,1% em 2013.
Quanto ao
desemprego jovem, Portugal regista também o terceiro valor mais elevado, apenas
superado por Espanha (51,5%) e pela Eslováquia (39,3%).
Comparando
com os dados de há um ano, de Abril de 2011, a taxa de desemprego em Portugal
subiu 2,6 pontos (12,6 para 15,2), e entre os jovens mais de oito pontos
percentuais (28,5 para 36,6), a maior subida na comparação anual entre todos os
Estados-membros sobre os quais há dados disponíveis.
Passos
Coelho e a sua comandita devem estar satisfeitos. Estão, de facto, cada vez
mais perto do seu mais sublime objectivo de vida: instalar no reino um regime
esclavagista.
Como disse o
primeiro-ministro, é preciso valorizar a "cultura de risco", tanto
mais que o desemprego não tem de ser encarado como negativo e pode ser
"uma oportunidade para mudar de vida".
Então escravos
do reino? O milhão e duzentos mil desempregados apenas têm que seguir os
conselhos do sumo pontífice do governo, apostando na “cultura do risco” e
percebendo que têm uma soberana "oportunidade para mudar de vida".
Soberana
oportunidade que pode contrariar as teses de Jorge Sampaio. É que se forem
presos por, isto é um mero exemplo académico, enfiarem um balázio na mona dos
responsáveis terão direito ao que hoje não têm: comida e cama. Será na prisão…
mas mais vale preso com a barriga cheia do que livre com ela vazia.
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