O
primeiro-ministro defendeu que, ao fim de um ano de Governo, “os portugueses já
não estão perante o abismo” e que está em curso uma mudança económica que é “a
mais importante dos últimos 50 anos”.
É verdade.
De vez em quando o homem até diz umas coisas certas. Os portugueses já não
estão, de facto, perante o abismo. Estão, isso sim, dentro do abismo. Não
vivem, e a Passos Coelho devem tal façanha, o drama da incerteza. Estão dentro
e pronto!
Durante uma
daquelas coisas a que já muitos portugueses não têm acesso - um jantar, promovido pela Câmara de Comércio
e Indústria Luso-Alemã, no Convento do Beato, em Lisboa, Pedro Passos Coelho
considerou que “a envolvente externa” oferece motivos de preocupação, mas que
Portugal “está hoje mais forte, mais sólido e mais resistente a contágios
adversos”.
Todos os
portugueses de segunda estão a dar provas de que são fortes, sólidos e
resistentes. Ao contrário das perspectivas do governo, ainda são muitos os que,
apesar de estarem a viver sem comer, não entregaram a alma ao criador. Mas é
tudo, como bem sabe o sumo pontífice do reino d’aquém e d’além Massamá, uma
mera questão de tempo.
Na sua, como
sempre pedagógica, intervenção, o primeiro-ministro corroborou que “os
portugueses já não estão perante o abismo com que nos defrontámos há
praticamente um ano atrás. Portugal está muito mais preparado para receber
investidores e para iniciar um novo ciclo de investimento, ao mesmo tempo que,
a prazo, poderá recuperar o dinamismo da sua procura interna, assim que tenha
realizado o seu ajustamento interno também”.
Assim sendo,
com mais um homem do PSD ao leme, Portugal vai emergir rapidamente.
Provavelmente já com muito menos portugueses e ao largo da Guiné-Bissau ou,
talvez, junto à baía de Luanda.
O
primeiro-ministro afirmou que foi mandatado para “recuperar a credibilidade e
resgatar as melhores condições de investimento para o país” e que, um ano
depois, a economia portuguesa “está a beneficiar de uma mudança que é
estrutural e que, em termos qualitativos e quantitativos, é, sem dúvida, a mais
importante dos últimos 50 anos”.
Com apenas
um milhão e duzentos mil desempregados, 20% de pobres e outro tanto de gente
que apenas tem como supremo objectivo de vida pôr algo mais do que farelo nos
pratos da família, não há dúvida que esta é mais radical mudança estrutural
alguma vez registada.
Passos
Coelho acrescentou que a mudança em curso é “talvez mesmo a mais relevante”
desde que Portugal integrou a Associação Europeia de Livre Comércio, em 1960.
Modéstia. Cá para mim, é a mais relevante desde 1 de Dezembro de 1640. Foi pena
que para isso tenha anulado a decisão de D. José I que em 12 de Fevereiro de 1761 aboliu a escravatura.
Mas também não se pode querer tudo.
1 comentário:
É claro que os habitantes de Portugal - porque já não são só os portugueses - já não estão à beira do abismo... é claro que já lá estão dentro!
Kdd
Eugénio Almeida
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