terça-feira, junho 05, 2012

Um chefe de posto modesto


O primeiro-ministro defendeu que, ao fim de um ano de Governo, “os portugueses já não estão perante o abismo” e que está em curso uma mudança económica que é “a mais importante dos últimos 50 anos”.

É verdade. De vez em quando o homem até diz umas coisas certas. Os portugueses já não estão, de facto, perante o abismo. Estão, isso sim, dentro do abismo. Não vivem, e a Passos Coelho devem tal façanha, o drama da incerteza. Estão dentro e pronto!

Durante uma daquelas coisas a que já muitos portugueses não têm acesso -  um jantar, promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã, no Convento do Beato, em Lisboa, Pedro Passos Coelho considerou que “a envolvente externa” oferece motivos de preocupação, mas que Portugal “está hoje mais forte, mais sólido e mais resistente a contágios adversos”.

Todos os portugueses de segunda estão a dar provas de que são fortes, sólidos e resistentes. Ao contrário das perspectivas do governo, ainda são muitos os que, apesar de estarem a viver sem comer, não entregaram a alma ao criador. Mas é tudo, como bem sabe o sumo pontífice do reino d’aquém e d’além Massamá, uma mera questão de tempo.

Na sua, como sempre pedagógica, intervenção, o primeiro-ministro corroborou que “os portugueses já não estão perante o abismo com que nos defrontámos há praticamente um ano atrás. Portugal está muito mais preparado para receber investidores e para iniciar um novo ciclo de investimento, ao mesmo tempo que, a prazo, poderá recuperar o dinamismo da sua procura interna, assim que tenha realizado o seu ajustamento interno também”.

Assim sendo, com mais um homem do PSD ao leme, Portugal vai emergir rapidamente. Provavelmente já com muito menos portugueses e ao largo da Guiné-Bissau ou, talvez, junto à baía de Luanda.

O primeiro-ministro afirmou que foi mandatado para “recuperar a credibilidade e resgatar as melhores condições de investimento para o país” e que, um ano depois, a economia portuguesa “está a beneficiar de uma mudança que é estrutural e que, em termos qualitativos e quantitativos, é, sem dúvida, a mais importante dos últimos 50 anos”.

Com apenas um milhão e duzentos mil desempregados, 20% de pobres e outro tanto de gente que apenas tem como supremo objectivo de vida pôr algo mais do que farelo nos pratos da família, não há dúvida que esta é mais radical mudança estrutural alguma vez registada.

Passos Coelho acrescentou que a mudança em curso é “talvez mesmo a mais relevante” desde que Portugal integrou a Associação Europeia de Livre Comércio, em 1960. Modéstia. Cá para mim, é a mais relevante desde 1 de Dezembro de 1640. Foi pena que para isso tenha anulado a decisão de D. José I que em  12 de Fevereiro de 1761 aboliu a escravatura. Mas também não se pode querer tudo.

1 comentário:

ELCAlmeida disse...

É claro que os habitantes de Portugal - porque já não são só os portugueses - já não estão à beira do abismo... é claro que já lá estão dentro!
Kdd
Eugénio Almeida