Fico virado
do avesso quando, e aqui em Portugal isso é mais do que comum, africano é
sinónimo de negro e angolano é sinónimo de empregado da construção civil ou de
mulher da limpeza.
Dir-me-ão
que não é uma questão de racismo mas, talvez, de ignorância. Na melhor das
hipóteses admito que seja uma simbiose das duas.
De qualquer
modo chateia ver, por exemplo, uma Comunicação Social supostamente nada racista
e intelectualmente válida a confundir a estrada da Beira com a beira da
estrada.
Estou farto
de, entre dois eventuais autores – um negro e outro branco - de um qualquer
crime, o suspeito principal ser sempre o negro. Estou farto dos discursos e das
práticas racistas que, depois de tantos anos de democracia, associam a
população negra a toda a criminalidade.
Para além de
os dados estatísticos da população prisional portuguesa não permitirem tão
leviana conclusão, os problemas devem ser analisados não em função da cor mas
sobretudo da realidade social, económica, política e cultural em que se
inserem.
Por alguma
razão Portugal está na cauda Europa e, com a sua manifesta mas não assumida
ignorância, contribui para que Angola (por exemplo) esteja (ainda esteja) no
estado em que se encontra.
Ao passar a
imagem de que africanos só são negros, de que os culpados são quase sempre
negros, Portugal corre o sério risco de arcar com o rótulo de – para além de
último descolonizador – ser um país racista.
Mas, em
Angola passa-se algo de semelhante. Em Portugal sou angolano, em Angola sou
português. Ou seja, esteja onde estiver nunca sou o que, de facto, de coração e
de alma, sou: Angolano.
Quando digo,
e digo sempre que posso, que sou angolano (branco por circunstâncias que nada
têm de opção pessoal...), não o faço por inferioridade de qualquer tipo nem por
superioridade de qualquer espécie. Digo-o porque o sou e o sinto, sem que isso
constitua uma maior ou menor valia. Será difícil entender isso?
E, já agora,
continuo sem perceber (será também racismo? Será ignorância?) a razão que leva
a Comunicação Social portuguesa a dar mais importância ao que se passa numa
qualquer comunidade que nunca ouviu falar de Portugal e da qual os portugueses
nada sabem, do que aos países africanos, ditos irmãos, que estão mesmo aqui ao
dobrar da esquina.
2 comentários:
Admiro a sua sinceridade e valôr humano neste estimado blog revolucionário. Estamos na mesma trincheira para libertar Angola do dono eterno.
Meu Caro amigo
Esse problema é um problema de toda a gente.Vivo na Guiné-Bissau há 13 anos. Todos os dias tenho que pagar pelo facto de ter pele branca. A toda a hora me chamam branco.O meu nome não é branco. porque terei que ser referido pela cor da minha pele.No mercado o preço que me é pedido é mais alto porque sou branco. Outras vezes sou beneficiado porque sou branco. Porquê? De fato todos precisamos de estar atentos a este problema. No fundo somos todos um pouco racistas. Há que mudar esta mentalidade.
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