sábado, junho 23, 2012

Timor-Leste segundo a ONU (fim)


O relatório da Relatora Especial da ONU sobre pobreza extrema e direitos humanos, Magdalena Sepúlveda Carmona, baseado na sua missão em Timor-Leste entre os dias 13 e 18 de Novembro de 2011, arrasa as autoridades. Eis as conclusões do documento:

A Relatora Especial reconhece os avanços feitos por Timor-Leste e os desafios continuados que enfrenta para consolidar a paz e a segurança e para conseguir o desenvolvimento sustentável.

Todavia constata com preocupação que a pobreza se mantém, não obstante os esforços notáveis e os vários programas bem sucedidos, e que o crescimento económico e o desenvolvimento não beneficiaram todos os timorenses por igual.

O Governo precisa concentrar os seus esforços em políticas sociais e económicas que garantam crescimento e desenvolvimento inclusivos e equitativos para toda a população.

Para tal é necessário fortalecer esforços para diversificar a economia não petrolífera, construir indústrias sustentáveis e assegurar a preservação dos recursos naturais em benefício das gerações vindouras.

Embora o relatório inclua recomendações detalhadas em cada uma das suas secções, a Relatora Especial apela a Timor-Leste que dê prioridade aos passos seguintes.

Ratificação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiências, da Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra o Desaparecimento Forçado, do Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e Culturais, e do Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança;

Finalização da adopção de um plano nacional de acção contra a violência com base no género e contra o tráfico humano, com alocação de recursos suficientes para permitir a implementação deste plano por parte da Secretaria de Estado para a Promoção da Igualdade e dos ministérios competentes;

Adopção de um plano nacional de acção sobre direitos da criança e provisão dos recursos necessários à Comissão Nacional dos Direitos da Criança para que possa cumprir o seu mandato. O Governo deve também considerar a possibilidade de alargar o mandato da Comissão de modo a receber queixas de violações de direitos de crianças e a levar a cabo intervenções institucionais;

Condução de novas consultas com o público e com a sociedade civil para finalizar a proposta de Lei de Direito de Menores e a proposta de Lei sobre Procedimentos Criminais Especiais, de acordo com os princípios internacionais de direitos humanos, bem como para finalizar a adoção do Código de Menores e da legislação de proteção de menores, regendo a adopção, os cuidados adoptivos e os cuidados institucionais para menores;

Provisão de respostas atempadas às recomendações do Provedor de Direitos Humanos e Justiça, conforme exigido por lei, e implementação das suas recomendações. Deve ser atribuído um maior grau de independência financeira ao Provedor a fim de garantir que este cumpre os princípios relativos ao estatuto de instituições nacionais para a promoção e proteção de direitos humanos (Princípios de Paris);

Aceleração da aprovação da proposta de Lei sobre Reparações e da proposta de Lei sobre o Instituto da Memória, as quais estão actualmente a ser analisadas pelo Parlamento Nacional;

Duplicação de esforços para lidar com violência doméstica e com base no género, incluindo a implementação da Lei contra a Violência Doméstica e da Lei sobre Proteção de Testemunhas, bem como aumento da alocação de recursos à Unidade de Pessoas Vulneráveis da Política Nacional;

Garantia de um modelo amplo de prestação de assistência judiciária na implementação da recém-adoptada Lei sobre Acesso aos Tribunais (2011), garantindo assistência judiciária em todos os distritos;

Emenda às provisões transitórias da Lei do Regime Jurídico da Advocacia Privada e da Formação dos Advogados, com vista a alargar o prazo para conclusão do curso de formação em pelo menos dois anos e a permitir matrículas a tempo parcial;

Garantia de que toda a legislação, propostas de legislação e outros documentos legais estão amplamente disponíveis pelo menos em português e tétum, e de que existem serviços de interpretação de português e tétum, bem como de línguas regionais, em todos os distritos e no Gabinete do Ministério Público e no Gabinete da Defesa Pública;

Garantia de que a ausência de proficiência em qualquer das duas línguas oficiais não é obstáculo ao usufruto de quaisquer direitos humanos;

Alargamento da cobertura e qualidade de serviços, bens e instalações de saúde, incidindo nas diferentes dentro e entre os distritos, na capacitação de profissionais de saúde e nos cuidados de saúde materna;

Garantia de que os Serviços Integrados de Saúde Comunitária contam com profissionais formados e recursos adequados e atempados a nível orçamental, logístico e de infraestruturas;

Canalização de recursos suficientes para a implementação da Política Nacional de Saúde Mental e para a Estratégia de Reabilitação com Base nas Comunidades;

Consideração dos impactos a nível de direitos humanos antes do início de qualquer projecto passível de resultar em deslocações, com o intuito de evitar despejos forçados e de assegurar os direitos humanos de todas as pessoas, grupos e comunidades que possam vir a ser afectados;

Garantia de que o quadro legal internacional de direitos humanos com relevância para despejos é reflectido nas novas leis sobre terras.

Aumento da coordenação entre iniciativas actuais de protecção social, assegurando cobertura nacional, transparência, responsabilização e acesso sem discriminações;

Garantia de que os pagamentos são distribuídos regularmente e de que os programas existentes são alargados de modo a chegar a todos os beneficiários elegíveis, sobretudo os que se encontram em áreas rurais;

Garantia de que os métodos de selecção não resultam em situações de discriminação ou exclusão e que não perpetuam actuais estruturas de poder assimétricas;

Análise da imposição de condições no programa Bolsa da Mãe, alargamento do programa e estabelecimento de um mecanismo de queixas;

Garantia de que uma das prioridades dos programas de protecção social é chegar aos elementos mais vulneráveis;

Desenvolvimento de esquemas de emprego para dar resposta às barreiras estruturais que impedem grupos específicos (jovens, mulheres, pessoas com deficiências e outros) de participar activamente na força de trabalho.

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