O Jornal de
Angola descobriu que ainda não tinha reescrito a História de Cabinda à luz das
regras estalinistas do MPLA. Vai daí,
juntou uma série de mentiras na esperança de que, por tantas vezes serem ditas,
acabarão um dia por ser verdade.
Não acredito
que a maioria dos sipaios do Jornal de Angola saiba ler mais do que aquilo que
vem nas ordens de serviço do chefe do posto. Mas, mesmo assim, dou o meu
contributo para que aprendam alguma coisa pois, na verdade, quando virarem a
casaca com o fim do ditador angolano vão ter necessidade de se justificar.
Seja qual
for o ponto de vista da análise, é matéria de facto que Portugal honrou desde
1885 até 1974 o compromisso assumido com os cabindas, razão pela qual em
matéria constitucional incluiu Cabinda na Nação portuguesa, fazendo-o de forma
autónoma e bem diferenciada de outras situações coloniais.
De facto, e
ao contrário das teses unilaterais dos descolonizadores que tomaram o poder em
Portugal em 1974 e dos sipaios que promoveram a chefes de posto com a entrega de
Angola ao MPLA, no artigo da Constituição Portuguesa referente
à Nação Portuguesa sempre constava, sempre constou e ainda lá está para quem
tiver dúvidas, que o território de Portugal era, na África Ocidental,
constituído pelos Arquipélagos de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe, Forte de
S. João Baptista de Ajudá, Guiné, Cabinda e… Angola.
Na Lei
Orgânica do Ultramar (designação que substituiu a referência às colónias), de
1972 (portanto, dois anos antes da Revolução de 1974), diz-se de forma clara
que o território português se compunha das províncias com a extensão e limites
que constarem da lei e dos tratados (Simulambuco, obviamente) ou convenções
internacionais aplicáveis.
Apesar de
alguma amnésia colectiva, sempre apetecível quando toca a não assumir
responsabilidades, muitas das gerações que ainda hoje estão no activo da
política portuguesa, aprenderam a completa e inequívoca separação, tanto
jurídica como administrativa, que a Constituição reconhecia com força de lei
para o território de Cabinda.
Recorde-se,
sobretudo aos que teimam em que uma mentira dita muitas vezes acaba, mais cedo
ou mais tarde, por se tornar verdade, que até meados do século passado, por
exemplo, quem viajasse de avião ou navio e que passassem por Cabinda a caminho
de Luanda, ou ao contrário, passavam por uma alfândega, o que só é entendível à
luz de serem dois territórios distintos.
Aliás, o
Governador-Geral de Angola ou um Secretário Provincial sempre se deslocaram a
Cabinda na data do aniversário do Tratado para presidir, junto ao monumento de
Simulambuco, às cerimónias que reforçavam e validavam o que fora assinado pelas
autoridades portuguesas de então.
É certo,
igualmente, que em 1955, para facilitar a administração do território, Cabinda
foi considerada como um distrito de Angola. Apesar disso, e reconhecendo que de
facto se tratava de um mero expediente administrativo, Portugal reafirmava que
Cabinda não era Angola, citando a esse propósito que se mantinha o articulado
que constava da Constituição.
O general
Silvino Silvério Marques, que foi Governador-Geral de Angola, entre 1962 e
1965, afirma que o ministro Silva Cunha, (a propósito da preparação do Estatuto
Político-Administrativo da Província de Angola de 1963) por ordem do chefe de
Governo, António de Oliveira Salazar, indagou o Governador-Geral de Angola no
sentido de saber se concordava que Cabinda, administrada então como distrito de
Angola, passasse a ter um estatuto especial de autonomia.
Ouvido o
Conselho Económico-Social de Angola, Silva Cunha recebeu uma resposta negativa,
situação que assim se manteve durante os 13 anos da guerra colonial.
Ou seja,
ficou visível que a administração de Cabinda como um distrito de Angola era uma
situação meramente burocrático-administrativa, nunca tendo Portugal alterado o
espírito a e letra do Tratado de Simulambuco.
Em tudo,
aliás, a situação de Cabinda relativamente a Angola era na altura da Revolução
de 1974 similar, ou até coincidente, com a dos protectorados belgas do Ruanda e
do Burundi em relação ao Congo Belga. Estes tornaram-se independentes.
É certo que
a rapaziada do Jornal de Angola, mas não só, não sabe quem é Adriano Moreira. Tirando
José Eduardo dos Santos, se calhar só sabem quem é o presidente de Angola e o
presidente do MPLA…
Mesmo assim,
transcrevo o que Adriano Moreira escreveu no Diário de Notícias em
30 de Novembro de 2004, sobre Cabinda:
“(…) O respeito pela identidade e vontade de ocupar um lugar igual na
comunidade internacional não depende nem da dimensão territorial nem da
expressão numérica da população: é um direito dos povos, que não foi limitado
pela regra indicativa da ONU, no sentido de as fronteiras da independência
serem as que tinham sido traçadas pela soberania colonizadora.
“No caso de
Cabinda, o ordenamento constitucional português, que durou até 1976, nunca
impediu a afirmação reiterada da identidade específica de Cabinda, nem a especificidade
do título que uniu Cabinda à coroa de Portugal, o anualmente e solenemente
festejado Tratado de Simulambuco, em relação também, com expressão única, com o
facto de os bustos dos reis portugueses em exercício por vezes assinalarem as
sepulturas dos líderes políticos locais que faleciam.
“A decisão
de cada povo, com sentimento de identidade, convergir para espaços políticos
mais vastos, optando por limitações de soberania, por grupos de soberanias
cooperativas ou por autonomias regionalizadas, faz parte da liberdade com que
organiza a preservação da sua identidade, não pode ser uma imposição exógena,
que contrarie os princípios e valores a que a Carta da ONU vinculou a defesa da
paz e da dignidade dos povos e dos homens.
“É
finalmente certo que o petróleo, como as antigas especiarias, tende para fazer
esquecer as limitações que estavam implícitas na resposta do anónimo marinheiro
de Vasco da Gama, e que Cabinda enfrenta o risco de ser absorvida pela
percepção actual da África útil.
“A resposta
firme tem de adoptar a recente advertência do PNUD (2004): «São necessárias
políticas multiculturais que reconheçam diferenças, defendam a diversidade e
promovam liberdades culturais, para que todas as pessoas possam optar por falar
a sua língua, praticar a sua religião e participar na formação da sua cultura,
para que todas as pessoas possam optar por ser quem são.
“Os cabindas
não exigem mais, e não se lhes pode pedir que exijam menos: «Optar por ser quem
são.»”
1 comentário:
Uma resposta adequada, porque a História ou o problema de Cabinda näo é a história de Pioneiro Ngangula.
O Jornal de Angola fala sobre violacäo dos direitos Humanos pela FLEC, pergunto saber onde esta o Pirilampo, 0 Sabata e tantos outros.
Quantos Portugueses civis que perderam perderam as suas vidas em Angola na época colonial e porque?
As acusacöes pela ONU de violacäo de Mulheres Congolesas pelas FAA, isto tudo o Jornal de Angola esqueceu ou näo sabe...?
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