A propósito,
ou não, de Nuno Simas e Maria José Oliveira. O primeiro porque fez algum
estardalhaço com as ditas “secretas” e foi castigado com o cargo director-adjunto da Lusa, empresa tutelada por Miguel Relvas,
e a segunda porque ao bater com a porta do Público poderá ter aberto uma maior…
Uma
trabalhadora independente com lugar marcado nas esquinas da cidade, que seja
amiga (ou fornecedora de serviços) do dono, ou do filho do dono, de um jornal, pode de um momento para o outro
ser jornalista.
O presidente
da República de Portugal, Cavaco Silva, lamentou no dia 26 de Março, diz ele
que "profundamente", que dois fotojornalistas tenham sido atingidos
(significará o mesmo do que agredidos?) durante os "distúrbios" que
ocorreram no Chiado, sublinhando ser importante que se "saiba bem tudo
aquilo que aconteceu".
No que tange
aos fotojornalistas, a questão parece-me simples de explicar. Cá para mim, os
polícias cumpriram com todo o rigor as instruções recebidas, mesmo que de forma
informal.
Passo a
explicar. Fernando Lima, o consultor político do Presidente da República, e seu
ex-assessor de imprensa, considerou que "uma informação não domesticada
constitui uma ameaça com a qual nem sempre se sabe lidar".
Ora, a
Polícia existe para acabar com ameaças e, é claro, para domesticar todos
aqueles que prevaricam. É discutível se a melhor forma de domesticação é o uso
do cassetete. Mas cada um usa os meios que lhe parecem mais eficazes.
"Lamento
profundamente que dois fotojornalistas tenham sido atingidos durante os
distúrbios a que as forças de segurança tiveram que fazer face", afirmou o
chefe de Estado.
Dizer que
desculpas e lamentos não se pedem – evitam-se, é o mesmo que chover no molhado.
Aliás, nada disto é novo em Portugal. O país tem evoluído também nas formas de
domesticar os jornalistas e, talvez por isso, se estranha que seja preciso usar
a violência física. Por regra a violência psicológica, ou a simples OPC (oferta privada de compra), são mais
do que suficientes.
O jornalismo
em Portugal (que já não sei bem o que é) continua a sua corrida no sentido da
perda total de credibilidade. Há, dizem-me, algumas excepções. Por serem poucas
são difíceis de encontrar. O processo de domesticação está no bom caminho.
No bacanal
colectivo em que se tornou Portugal, e ao contrário do que seria de esperar, os
“macacos” (que são cada vez mais) não estão nos galhos certos (que são cada vez
menos). E quando assim acontece (e acontece muitas vezes), os (supostos) jornalistas
fazem contas à vida e lá vão para a vida.
O Estado de
Direito... democrático continua a manter, sempre através do cassetete físico ou
psicológico, muitos vícios, deformações e preconceitos herdados. Dá jeito, é
barato e eficiente. O “quero, posso e mando” continua a fazer escola, sobretudo
tendo como mestres os donos dos jornalistas e os donos dos donos.
A
promiscuidade na sociedade portuguesa está de pedra e cal. Na Comunicação
Social todos, de Cavaco Silva e Miguel Relvas, a querem independente mas, como
é hábito, controlam essa independência pelos mais diferentes meios, sejam
económicos, partidários ou outros.
O jornalismo
que vamos tendo, qual reles bordel, aceita tudo e todos. No entanto,
reconheça-se, os jornalistas sempre podem ser deputados, assessores de
ministros, administradores de empresas, gestores e até – pasme-se – “jornalistas”
nas empresas onde o Estado manda, seja na Lusa ou na RTP.
Se todos
podem ser jornalistas, porque carga de água não podem os jornalistas ser
deputados... da Nação, ou assessores de políticos, ou conselheiros do
presidente, ou prostitutos da alma? Nem mais. É uma pequena vingança, mas mais
vale pequena do que nenhuma. Não?
Aliás, a
própria Comissão da Carteira Profissional de Jornalista entende que não é
incompatível ser jornalista e deputado. O mesmo se passa com o Sindicato dos
Jornalistas que viu o seu presidente ser candidato a deputado.
Nada
importa. Os Jornalistas (até) não têm razão de queixa... São uma classe
prestigiada, nobre e cada vez mais dignificada.
É muito mais
vantajoso e lucrativo ser domesticado, criado de luxo do poder, como é bem
exemplificado pelo próprio Fernando Lima. E depois das diferentes comissões de
serviço sempre poderá ser administrador de uma qualquer empresa, pública ou
privada.
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