quinta-feira, junho 21, 2012

Timor-Leste segundo a ONU (I)


O relatório da Relatora Especial da ONU sobre pobreza extrema e direitos humanos, Magdalena Sepúlveda Carmona, baseado na sua missão em Timor-Leste entre os dias 13 e 18 de Novembro de 2011, arrasa as autoridades:

“A extensão e a profundidade da pobreza em Timor-Leste são ainda mais graves do que o sugerido pelas estatísticas da pobreza em termos de rendimentos. De acordo com o Índice Multidimensional da Pobreza, que identifica privações múltiplas nos lares relativamente a educação, saúde e nível de vida, 68 por cento da população timorense sofrem de privações várias, sendo que outros 18 por cento são vulneráveis.

A insegurança alimentar afecta até 70 por cento dos lares durante a “estação magra” de Dezembro a Fevereiro, o que vem agravar a má situação nutricional das mulheres e sobretudo das crianças, sendo que 58 por cento destas sofrem de malnutrição crónica.

O acesso a meios adequados de água e saneamento continua fraco, sobretudo em áreas rurais, com aproximadamente 43 por cento dos lares a não terem acesso a água potável e 74 por cento dos lares a não terem acesso a saneamento melhorado.

Embora o Governo reporte que cerca de dois terços da população têm acesso a água potável, a Relatora Especial recebeu informações de que a má qualidade da água implica que somente uma percentagem muito baixa de timorenses tem acesso a água potável segura, sendo que muitos têm de percorrer distâncias consideráveis a pé para obterem esta água.

A falta de acesso a água potável e a meios de saneamento contribui para doenças entre as crianças, incluindo a diarreia, uma das principais causas de morte das crianças com menos de 5 anos.

A desigualdade a nível de rendimentos aumentou consideravelmente. Dados desagregados revelam que 75 por cento dos timorenses que vivem em áreas rurais sofrem de forma desproporcional no que diz respeito à pobreza.

As disparidades entre os residentes em Díli, 71 por cento dos quais fazem parte do grupo  mais abastado em Timor-Leste, e os residentes em áreas rurais, são muito acentuadas: as populações rurais apresentam taxas consideravelmente mais elevadas de pobreza crónica de rendimentos e de insegurança alimentar, bem como resultados em termos de saúde e educação claramente mais baixos.

A ausência de infraestruturas suficientes impede as deslocações, a comunicação e o acesso a informações, sendo que a concentração de processos decisórios em Díli é um sério obstáculo à prestação de serviços básicos a nível de distrito, suco e aldeia.

A esmagadora maioria dos residentes em áreas rurais sofre de sub-emprego e de insegurança em termos de emprego. Embora a grande maioria da população rural dependa da agricultura de subsistência, os investimentos no sector da agricultura têm sido inadequados.

As políticas fiscais não conseguiram criar uma economia diversificada, pelo que o crescimento em Timor-Leste está fortemente dependente das reservas petrolíferas finitas do país. Isto levanta sérias preocupações em torno da sustentabilidade do quadro económico do país, o qual tem vindo a ser fortemente criticado por alguns agentes timorenses, incluindo organizações da sociedade civil.”

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