sábado, outubro 31, 2009

E vivam os meninos do Bangladesh
(os do Huambo passaram à história)

Maria da Conceição tem sido comparada à Madre Teresa de Calcutá e foi agora nomeada para o Prémio Mulher do Ano dos Emirados Árabes Unidos (EAU), na categoria de Acção Humanitária, que poderá vir a receber no próximo dia 17 de Novembro. Espero que ganhe.

Há quatro anos depois de uma escala de 24 horas no país, decidiu criar uma obra de solidariedade com o objectivo de dar educação, alimentação, cuidados de saúde e apoio comunitário a mais de meio milhar de crianças carenciadas de um subúrbio de Daca, a capital do Bangladesh. É obra!

Tenho, contudo, alguma (para não dizer total) dificuldade em perceber como é que esta portuguesa ajuda as crianças, obviamente merecedoras de toda a ajuda, do Bangladesh e não faz o mesmo com meninos de Angola, da Guiné-Bissau, de Timor-Leste, de Moçambique, de São Tomé ou de Cabo Verde.

Diria mais. E as próprias crianças portuguesas? É que nas ocidentais praias lusitanas que são a pátria de Maria da Conceição, assistente de bordo da Emirate Airlines, 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) de crianças estão expostas ao risco de pobreza...

Para mim é, e é claro que estou errado, um dado voluntariamente adquirido que os países lusófonos deveriam ser prioritários, sem com isso questionar a necessidade de outros povos.

Tal como entendo que os franceses devem dar prioridade aos países francófonos, imaginava que os portugueses deveriam fazer o mesmo em relação aos lusófonos. Mas não é assim.

Se calhar, um dias destes vamos ver uma qualquer Maria da Conceição nascida no Dubai criar uma organização para ajudar os meninos do Huambo ou da Cova da Moura.

Aliás, aos 32 anos de idade é bem possível que para Maria da Conceição seja mais importante o que se passa em Kiev do que o que se passa em Luanda, seja mais importante o que se passa em Bruxelas do que o que se passa na Cidade da Praia, seja mais importante o que se passa em Rabat do que o que se passa em Díli.

A votação para os prémios Mulher do Ano nos EAU termina hoje. Seja como for, vamos enquanto é tempo dar-lhe o nosso voto através deste
site.

2 comentários:

Anónimo disse...

É obra mesmo! Mas pelo meu ponto de vista o seu raciocínio está correcto. Há qualquer factor intrigante que mobiliza os portugueses para certas acções. uma delas foi a que nomeou e outra é que quando há um desastre no estrangeiro, seja natural, seja humano, a preocupação máxima é saber quantos portugueses pereceram. Uma histeria contagia os Media e há que saber de imediato, quantos portugueses foram afectados, nem que seja na China e as probabilidades sejam zero.
Enfim somos um povo peculiar!
Inversamente as ajudas vão parar longe, mas são de todo bem vindas.

Emanuel Gigante Santos disse...

Oh pelo amor de Deus...

Estamos a criticar alguém que criou um projecto de solidariedade ???


Muito gostamos nós de criticar...

se utilizássemos a mesma energia para criarmos qualquer coisa de valor... qualquer coisinha... assim só para a amostra.

e ainda se fazem hipotéticos juízos de valor " Aliás, aos 32 anos de idade é bem possível que para Maria da Conceição seja mais importante o que se passa em Kiev do que o que se passa em Luanda"

isto é tão ridículo que chega ao caricato.

Existem certos momentos em que o silêncio é de ouro.