O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, acusou hoje, no Huambo, o governo do MPLA de ter «instalado o medo em Angola» como «instrumento de repressão à liberdade de expressão». Foi, no Huambo, durante uma homenagem a Eduardo Ekumdi Daniel, antigo professor e nacionalista, morto em 1977, pelas tropas do MPLA.
As duras e violentas afirmações não são novidade. Os angolanos sabem que é assim porque sentem no corpo. A comunidade internacional, desda a ONU à CPLP, sabe que é verdade mas, pela força do petróleo, cala-se!
Samakuva acrescentou que em Angola, hoje, «as pessoas até têm medo de ouvir» para não ficarem a saber de algo que os possa comprometer. «Através do medo, o regime do MPLA instrumentaliza todos, mantém as pessoas cativas, deixou a sociedade angolana refém desta estratégia de controlo», apontou Samakuva num dos mais violentos ataques ao MPLA feitos nos últimos tempos.
Samakuva, a UNITA e grande parte do povo angolano, parte do qual até votou no MPLA, estão fartos de esperar que o MPLA faça muito do que não fez nos anteriores 34 em que esteve no poder.
É que como os angolanos sabem e sentem (a comunidade internacional sabe mas não sente) a exclusão social, a pobreza, o desemprego, o sistema de educação, a saúde e a corrupção, entre outros, continuam na mesma.
A comunidade internacional, com a ONU e a CPLP à cabeça, esquecem-se que, apesar de 35 anos de poder, sete dos quais em completa paz e com a colaboração institucional da UNITA, mais de 68% da população vive em pobreza extrema.
A comunidade internacional sabe, mas vende o seu silêncio em troca do petróleo, que a taxa estimada de analfabetismo é de 58%, enquanto a média africana é de 38%. Sabe que Angola consagra à educação uma média de 4,7% do seu orçamento, enquanto a média da SADC é superior a 16%.
Além disso, a malária continua a ser a causa de morte número um, seguida da tuberculose, a desnutrição, a tripanossomíase e a hipertensão. Angola disponibiliza apenas 3 a 6% do seu orçamento para a saúde dos seus cidadãos. Este dinheiro não chega sequer para atender 20% da população, o que torna o Serviço Nacional de Saúde inoperante e presa fácil de interesses particulares.
Todos sabem que a política habitacional também é um desastre, que a justiça está subserviente ao poder executivo e a corrupção está institucionalizada. Ao invés de um Estado de Direito, Angola tornou-se num Estado patrimonialista, mal governado, com um baixo índice de desenvolvimento humano, onde os jornalistas (apenas os que não escrevem a verdade oficial) ainda são presos.
É verdade que a economia está a crescer, mas está a crescer mal, quer na estrutura da produção interna, quer na distribuição da riqueza nacional: 76% da população vive em 27% do território. Mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.
A política económica em curso não garante a integração digna da juventude na sociedade, não lhe assegura o primeiro emprego e não promove o desenvolvimento descentralizado do território.
O acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos Bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos Blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Aos demais, concedem-se algumas benesses desde que aceitem negar a sua identidade política ou cultural. Não se tolera a igualdade de oportunidades na distribuição da riqueza. Não se permite que, os que hoje não têm nada, venham a ser também ricos amanhã.
Samakuva responsabiliza ainda o governo pelas assimetrias entre os angolanos. “Ao invés de promover a unidade nacional, o Governo aumenta o fosso entre ricos e pobres, promove as desigualdades e institucionaliza a exclusão social”, garante o líder da UNITA.
Diz ainda Samakuva que a filosofia do Governo do MPLA é a de que “quem não está connosco é contra nós”.
1 comentário:
Tudo isto só é possível com o apoio retrogrado de portugueses,brasileiros e chineses. Por enquanto...
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