A Justiça francesa condenou hoje Jean-Christophe Mitterrand, filho mais velho do ex-presidente francês François Mitterrand, por tráfico de armas para Angola durante a guerra civil. Hum!
O caso, que ficou conhecido como "Angolagate", e envolve mais ou menos 790 milhões de dólares em vendas de armas para o presidente angolano e líder do partido (MPLA) que governa Angola desde 1975, José Eduardo dos Santos, entre 1993 e 1998.
Hum! Tráfico de armas para o MPLA? Não pode ser. Os impolutos dirigentes deo MPLA, a começar por Eduardo dos Santos, nunca o permitiriam. Trata-se, como é óbvio, de uma “campanha branca” contra o único herói vivo de Angola.
Outras 41 pessoas foram acusadas em Paris de vender armas a Angola, desafiando (como se isso fosse alguma coisa complicada) um embargo de armas da ONU.
O julgamento lançou luz sobre um mundo de pagamentos secretos, feitos em dinheiro, e acordos discretos ligando a alta sociedade parisiense com uma das guerras mais duradouras da África, bem como a políticos reconhecidos nos areópagos internacionais como sublimes exemplos.
O caso também foi um constrangimento para o governo francês, que está ávido (o petróleo, mas não só, a isso obriga) em cultivar relações mais próximas com Angola, um parceiro comercial de importância crescente. Aliás, mais de 70 empresas francesas estão estabelecidas em Angola, inclusive – pois claro! - a gigante de petróleo Total, que é o segundo maior produtor de petróleo no país, depois da Chevron.
Os dois protagonistas do "Angolagate" são o traficante de armas francês Pierre Falcone e o empresário russo-israelense Arkady Gaydamak. Ambos foram condenados por vendas ilegais de armas, fraude fiscal, lavagem de dinheiro, desvio de dinheiro e outros crimes. Nada que possa incomodar a prestigiada história de um Estado de Direito (de um quê?) como é Angola...
Os dois foram sentenciados a seis anos de prisão, e Falcone foi preso assim que o juiz terminou de ler as sentenças - um processo que durou duas horas devido ao número de pessoas envolvidas. Gaydamak está foragido.
Jean-Christophe Mitterrand, que era conselheiro do pai sobre questões relacionadas ao continente africano, foi inocentado da acusação de que facilitou o envio de armas para Angola, mas culpado por receber mais de 2 milhões de dólares de Falcone e Gaydamak para promover as suas jogadas.
Jean-Christophe Mitterrand apanhou uma pena de dois anos de prisão, que poderá ser cumprida em liberdade, e foi multado em 375 mil euros. Presente no tribunal para ouvir a sentença, Jean-Christophe manteve-se impávido e sereno.
Charles Pasqua, ex-ministro do Interior, foi considerado culpado de aceitar dinheiro dos dois traficantes de armas, mesmo sabendo que era dinheiro sujo. i sentenciado a três anos de prisão.
Como diz Eugénio Costa Almeida, “se juridicamente, o processo estará encerrado e politicamente ficou no limbo, por certo que a História há-de, um dia, clarificar este processo”.
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