sexta-feira, outubro 16, 2009

Nem os jornalistas dizem que são jornalistas

Atitudes como a do governo nepalês de querer usar jornalistas como informadores ou das forças de segurança de Israel que se disfarçam de fotojornalistas para melhor identificar manifestantes são prejudiciais para a imagem de independência dos média e aumentam o risco de ataques contra jornalistas, denunciam organizações afectas à International Freedom of Expression eXchange (IFEX).

Nessa matéria, Portugal (mesmo, mas sobretudo, nos reinados de José Sócrates) é um paraíso. O máximo que se consegue é assessores disfarçados de jornalistas, directores fingindo ser jornalistas e, de vez em quando, jornalistas disfarçados de jornalistas.

De acordo com a Article 19 e a Federação de Jornalistas Nepaleses (FNJ), o uso de jornalistas como informadores é contrário ao código de conduta emitido pelo Conselho de Imprensa Nepalês, motivo pelo qual as duas entidades e a organização local Freedom Forum apelaram ao governo do país para que abdique de usar jornalistas como espiões, para garantir a segurança da classe.

De facto... Lá que se usem os jornalistas para assinarem textos feitos por assessores, para darem um ar de notícia à propaganda, para fazerem fretes aos donos do poder, ainda vá que não vá. Agora serem informadores, essa não!

Por seu turno, o Centro Palestiniano para as Liberdades de Média e Desenvolvimento (MADA) relatou que agentes de segurança israelitas se disfarçaram de fotojornalistas para identificar e deter manifestantes a 8 e 9 de Outubro, uma prática também denunciada pelos Jornalistas Canadianos pela Liberdade de Expressão (CJFE), que em 2008 documentou o caso de um polícia que se fez passar por repórter com o mesmo fito.

Pois é. São mundos e realidades diferentes. Pelo reino luso o que se encontra é bem diferente. São ministros, assessores, assessores dos assessores, chefes de gabinete, empresários, autarcas, dirigentes desportivos disfarçados de jornalistas. Tão bem disfarçados que, se calhar, alguns até têm carteira profissional.

Para o MADA, esta é “uma violação das leis e cartas internacionais e coloca em risco as vidas dos jornalistas”, enquanto o CJFE afirma que “quando polícias se fazem passar por jornalistas, cria-se um ambiente em que os cidadãos não podem confiar que quem se identifica como jornalista é realmente jornalista”, o que prejudica o relacionamento com potenciais fontes de informação.

Por Portugal, os cidadãos também confiam cada vez menos nos jornalistas. Não porque temam que lhes apareça a amante do dono do jornal a dizer que é jornalista, mas porque nem mesmo os jornalistas dizem que são jornalistas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Grande texto Orlando! isso diz tudo!

Guilherme Freitas disse...

Orlando, isso é algo que ocorre em todo o mundo. No Brasil também, já que muitas empresas de imprensa são aliadas a políticos ou empresários e defendem os interesses deles, alterando a informação. É uma luta difícil, mas nós bloguieiros e jornalistas independentes podemos vencer. Abraços.