Os 16 jornalistas que hoje, quarta-feira, compareceram em Oeiras (Portugal) para serem julgados por violação do segredo de justiça no processo Casa Pia optaram por se remeter ao silêncio, prosseguindo o julgamento a 20 de Outubro com audição de testemunhas.
Fizeram bem. Aliás, o silêncio é sempre uma boa estratégia, mesmo quando é suposto os jornalistas serem os últimos a estarem calados. Se calhar são mesmo os últimos.
O mesmo se passou quando, no “Retrato da Semana”, que António Barreto publicou no jornal português Público de 27 de Janeiro de 2008, foram ditas verdades suficientes para fazer rolar algumas cabeças do Governo, a começar pela do primeiro-ministro, bem como de muitos responsáveis pela imprensa portuguesa (lato sensu).
Vigorou o silêncio. E porquê? Porque “este é o mundo em que vivemos: a mentira é uma arte. Esta é a nossa sociedade: o cenário substitui a realidade. Esta é a cultura em vigor: o engano tem mais valor do que a verdade”.
Segundo António Barreto, os ex-assessores do governo agora chamados de "Press officers e Media consultants", falam todos os dias com os administradores, directores e jornalistas das televisões, das rádios e dos jornais e (no que aos jornalistas respeita) “escrevem notícias com todos os requisitos profissionais, de modo a facilitar a vida aos jornalistas”.
Acrescentou António Barreto que “mentem de vez em quando. Exageram quase sempre. Organizam fugas de imprensa quando convém. Protestam contra as fugas de imprensa quando fica bem. Recompensam, com informação, os que se conformam. Castigam, com silêncio, os que prevaricaram. São as fontes. Que inundam ou secam.”
O texto de António Barreto por ser, infelizmente, sempre actual continua demolidor para os que, por serem filhos de boa gente, se sentem atingidos. Apesar disso, tudo continua na mesma. Em silêncio.
Será porque os jornalistas não são filhos de boa gente? Será porque já não existem jornalistas? Será porque se deixam comprar por um prato de lentilhas? Será porque querem ser “Press officers e Media consultants”?
De facto, por muito que me custe, começo a ver que, ao fim de trinta e tal anos, a minha profissão (não tanto pelo corrupto silêncio dos maus, mas pela indiferença dos bons) está a ser cada vez mais um antro muito mal frequentado.
Mal frequentado mas silencioso, como convém.
1 comentário:
O melhor trabalho do demónio, foi convencer-nos que não existe!
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