“Só os espíritos cretinos e obtusos pensam que receber um clube numa câmara é sinal de promiscuidade”, disse ontem o presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, em Olhão, Algarve, referindo-se a Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto.
O presidente da Câmara Municipal do Porto está, de há muito, ou seja desde a sua primeira campanha eleitoral para a autarquia, em rota de colisão com todos os interesses instalados. Rui Rio ainda não ganhou a guerra da moralização da vida pública, mas para lá caminha, por muito que isso custe a muita, também boa, gente.
Ou seja. Rui Rio quer (e bem, na minha opinião) que cada macaco esteja no seu galho. Futebol é futebol, política é política. Prioridades são prioridades. Cultura é cultura. Se assim não for, e há muito que não é assim, continuaremos a ter uma perigosa promiscuidade onde não se sabe quem é quem, quem representa o quê.
Aliás, como nos recorda a história, foi essa promiscuidade que fez com que o macaco acabasse por «comer» a mãe...
De há muito que os portugueses se habituaram a ver os agentes da vida pública todos misturados numa orgia colectiva que, cada vez mais, mostra que a moralidade e a equidistância são valores pouco relevantes para um país que está acostumado a jogar no sistema de todos a monte e fé em Deus.
Para comprovar tudo isso nem é preciso apelar à memória (também ela um valor irrelevante na nossa sociedade), basta olhar todas as semanas para as bancadas VIP dos estádios de futebol. Políticos pigmeus e pigmeus políticos (entre outros) lá estão, a propósito de tudo e de nada, em bicos de pés para que todos os vejam. E então quando isso acontece com um campeão... é a cereja no cimo do bolo da promiscuidade.
Dir-se-ia que, mais uma vez, não basta ser sério. Também é preciso parecê-lo. Mas, infelizmente, algumas das nossas figuras públicas nem são sérias nem parecem sê-lo. Nem estão, acrescente-se, preocupadas com isso.
E quando, o que é raro, aparece um político como Rui Rio a dizer que a obra prima do Mestre não é a mesma coisa que a prima do mestre de obras, logo surgem os arautos da desgraça a dizer que o Carmo e a Trindade vão cair.
E para que não caiam sugerem que tudo fique na mesma. Ora, com Rui Rio, para o bem e para o mal, nada fica nem ficará na mesma.
Rui Rio reitera, agora que é candidato ao terceiro mandato, a sua fidelidade aos compromissos firmados com a cidade e mostra-se inamovível na intenção de continuar a dar sequência ao que, nessa linha, sempre qualificou de «política de ruptura», seja em relação a poderes instalados, seja a sectores que colocam o ganho individual ou corporativo à frente do interesse colectivo.
E, ao que parece, a maioria dos portuenses vai continuar a dar o seu voto a quem tem um “espírito cretino e obtuso”. Eu dou.
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