O Governo Provincial de Luanda desmentiu, em comunicado, a existência de vítimas na manifestação que ex-militares efectuaram ontem na capital angolana, e que foi dispersada a tiro pela polícia.
No comunicado, divulgado na edição de hoje do órgão oficial do regime, “Jornal de Angola”, tudo começou quando um grupo de arruaceiros criminosos, “que se apresentaram como desmobilizados", se concentrou em três locais da capital, proximidades do Terminal Doméstico do Aeroporto 4 de Fevereiro, Largo da Maianga e Cemitério do Alto das Cruzes, "envolvendo-se em actos desordeiros, sob o pretexto de reivindicar a pensão de reforma".
Embora o problema tenha mais de duas décadas, o Governo de Luanda explica que os incidentes ocorreram cinco dias depois do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas ter retomado o processo de liquidação dos subsídios de desmobilização de ex-militares.
"Face a esta situação, o Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional foi chamado a manter a lei, a ordem e a tranquilidade públicas, em conformidade com as normas jurídicas legalmente estabelecidas", lê-se no comunicado.
Tudo aconteceu porque, ao fim da tantos anos de democracia “made in” MPLA, os angolanos ainda não perceberam que são culpados de tudo até prova em contrário e que, como ontem se voltou a ver, têm toda a liberdade para estarem quietos e calados.
Os efectivos da Polícia Nacional de Angola recorreram então, segundo o comunicado oficial, "quer à tomada de medidas de sensibilização ao civismo, quer de medidas coercivas lícitas, tendo-se verificado algumas detenções, sem que se registassem vítimas".
Creio até que, nesse habitual apelo ao civismo, a Polícia leu alguns poemas de Agostinho Neto enquanto os manifestantes bebiam umas cucas.
Os ex-militares (ou terão sido também arruaceiros?) saíram pela primeira vez para a rua no passado dia 7, tendo sido travados a dezenas de metros da entrada da Cidade Alta, onde se localizam vários ministérios e a Presidência da República, por um forte contingente da Polícia de Intervenção Rápida e Polícia Militar, reforçado com veículos blindados com canhões de água e brigadas caninas.
Tudo, como se sabe, meios lícitos usados para incentivar o civismo e garantir a paz no reino de José Eduardo dos Santos onde, por exemplo, 70% da população passa fome.
Ontem, os manifestante “que se apresentaram como desmobilizados" voltaram a sair para a rua, tendo desta feita a ordem de dispersar sido acompanhada de disparos para o ar e granadas de gás lacrimogénio, enquanto os manifestantes ripostavam com o arremesso de pedras.
Registe-se, contudo, que os tiros – para além de terem sido dados para o ar – não eram de balas reais mas, antes, de uma mistura de tremoços e ginguba.
Ontem à noite, em entrevista à Lusa e RTP, o tenente-general Artur de Oliveira, do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, acusou agitadores de se terem infiltrado entre os ex-militares para provocar distúrbios.
Dando razão a este tenente-general, reconheci alguns dos agitadores presentes. Lá estavam, entre outros, Filomeno Vieira Lopes, Luís Araújo, Alcides Sakala, Lukamba Gato, Rafael Marques, Isaías Samakuva, Abel Chivukuvuku, Abílio Camalata Numa, Wiilliam Tonet e Justino Pinto de Andrade…
3 comentários:
A VERDADE ESTÁ SEMPRE DO LADO DOS DITADORES
Em Portugal há um discurso igual por parte dos nossos ditadores. Paz para todos!
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