Novas
avenidas em Malabo deverão chamar-se Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho. Em
agenda está uma outra que deverá ter o nome de Miguel Relvas.
O Presidente
de Cabo Verde já prepara o terreno para a entrada da Guiné-Equatorial nessa
aberração chamada a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), o que
deverá acontecer na cimeira de Maputo, em Julho.
Jorge Carlos
Fonseca diz que a entrada “poderá ser aprovada ou adiado”, mas manda o politicamente correcto que se
traduza a dúvida dialéctica como uma certeza. Aliás, a maioria dos países já se
pronunciou de forma consensual pela entrada, inclusive Cabo Verde, pela voz do
antigo presidente Pedro Pires.
Segundo
Domingos Simões Pereira, o guineense que é formalmente (na prática é um mero
funcionário às ordens dos Estados) Secretário Executivo da CPLP, “este processo
de adesão consiste em dois, três, elementos fundamentais”.
“Por um
lado, a Guiné-Equatorial já está cumprindo com a aprovação da língua
portuguesa, como língua oficial. Mas também há princípios que têm a ver com o
exercício democrático no país, com uma maior abertura, com os direitos humanos.
Há todo um conjunto de princípios no país que nós achamos que têm que ser
respeitados”, diz Domingos Simões Pereira numa tentativa, vã e coxa, de querer
dar credibilidade à CPLP.
Com a bênção
do democrata (apesar de não eleito e há 33 anos no poder) presidente de Angola,
e com o agachamento dos restantes países, a Guiné-Equatorial aí vai estar na
CPLP com armas e bagagens.
É evidente
que a entrada da Guiné-Equatorial na CPLP “não vai mudar nada o regime de
Teodoro Obiang” (onde está a novidade?), afirmou já em Julho de 2010 à Agência
Lusa um dos líderes da oposição em Malabo.
“Obiang está
no poder desde 1979 e vai continuar a violar os direitos humanos, a torturar e
a prender”, declarou Celestino Bacalle, vice-secretário geral da Convergência
para a Democracia Social (CPDS).
“Nada mudou
na ditadura nestes anos todos nem vai mudar com a entrada na CPLP. Quem muda
são os que antes criticavam a situação na Guiné-Equatorial e agora são
convencidos pelo dinheiro, pelo petróleo e pelos negócios”, acusou o número
dois da maior plataforma da oposição equato-guineense.
“Hoje, os
que tinham uma posição crítica sobre a ditadura de Obiang mudam de posição
depois de visitarem Malabo”, ironizou o dirigente da oposição, responsável
pelas relações políticas internacionais da CPDS.
“A adesão à
CPLP não nos surpreende. A candidatura era previsível, na linha do que Obiang
tem feito com outras organizações internacionais. Ele quer mostrar ao povo
guineense que o dinheiro pode comprar tudo o que ele quiser. O pior é que tem
razão”, denuncia o dirigente da CPDS.
“Obiang está
a conseguir que as portas se abram em todo o lado para o regime. Apoiam-no
agora para ter o nosso petróleo mais tarde”, sublinhou.
“O que
constatamos é que África avança a três velocidades, não a duas. Há uma África
dos países que já atingiram a democracia, há outra dos países que estão a
caminho de atingir esse objectivo e depois há o grupo da Guiné-Equatorial, onde
assistimos a um retrocesso”, afirmou Celestino Bacalle.
“A Guiné
Equatorial faz parte do pior de África, mas isso não interessa a quem fica
convencido pelas promessas de negócios”, acrescentou o líder da oposição.
“É uma
vergonha para muitos governos africanos que fecham os olhos ao que se passa na
Guiné-Equatorial”, uma crítica que, diz Celestino Bacalle, “serve também para o
Governo português”.
“Obiang não
admite influência de ninguém porque não tem essa humildade. Quanto à promessa
que ele fez de declarar o português como língua oficial da Guiné-Equatorial,
vai acontecer o mesmo que aconteceu ao francês: é língua oficial há muitos anos
e quase ninguém fala entre a população”, conclui o dirigente da oposição.
Para além de
ter decretado que o seu país passa a ter a língua portuguesa como oficial,
Obiang já terá convidado o primeiro-ministro português para inaugurar, na
capital do país (Malabo), duas avenidas que deverão chamar-se: Cavaco Silva e
Pedro Passos Coelho. Em agenda está uma outra que deverá ter o nome de Miguel
Relvas.
Embora
Obiang, como aliás os portugueses, saiba que o que hoje é verdade para o
governo de Portugal amanhã pode ser mentira, é visível o desgosto que reina na
comitiva do vitalício presidente da Guiné-Equatorial se, por qualquer
cataclismo, o seu país não entrar na CPLP.
Consta que
Obiang terá já dito aos seus conselheiros que, se não entrar, vai mandar
cancelar – entre outras – a encomenda de milhares de exemplares daquela coisa a
que em Portugal chamam “Magalhães”, bem como de navios aos Estaleiros Navais de
Viana do Castelo e cancelar o acordo previsto com os Serviços Secretos relvanísticos.
Mais do que
os “Magalhães”, para Portugal será com certeza penoso saber que as avenidas que
deveriam ter os nomes de Cavaco Silva e Passos Coelho possam vir a denominar-se
Eduardo dos Santos e MPLA.
Reconheça-se,
contudo, que tomando como exemplo Angola, a Guiné-Equatorial preenche todas as
regras para integrar a CPLP. Não sabe o que é democracia mas, por outro lado,
tem fartura de petróleo, o que é condição “sine qua non” para comprar o que bem
entender.
Obiang, que
a revista norte-americana “Forbes” já apresentou como o oitavo governante mais
rico do mundo, e que depositou centenas de milhões de dólares no Riggs Bank,
dos EUA, tem sido acusado (tal como o seu homólogo angolano, por exemplo) de
manipular as eleições e de ser altamente corrupto, tal como o que se passa em
Angola.
Obiang, que
chegou ao poder em 1979, derrubando o tio, Francisco Macias, foi reeleito (isso
é que é democracia) com 95 por cento dos votos oficialmente expressos (também
contou, como em Angola, com os votos dos mortos), mantendo-se no poder graças a
um forte aparelho repressivo, do qual fazem parte os seus guarda-costas
marroquinos.
Os vastos
proventos que a Guiné-Equatorial recebe da exploração do petróleo e do gás
natural poderiam dar uma vida melhor aos 600 mil habitantes dessa antiga
colónia espanhola, mas a verdade é que a maior parte deles vive abaixo da linha
de pobreza. Em Angola são 70% os pobres...
A Amnistia
Internaciona (AI) diz que no país do Presidente Teodoro Obiang ainda se
registam “vários casos de detenções e reclusões arbitrárias por motivos
políticos”, que normalmente ocorrem “sem que a culpa dos detidos seja formada e
formalizada”, e sem que haja “um julgamento justo”.
Estas
alusões a Teodoro Obiang e ao seu país encaixam que nem uma luva ao caso de
Angola, até mesmo quanto aos anos que os dois presidentes estão no poder.
“Tais
práticas não constituem apenas violação dos padrões internacionais de Direitos
Humanos aplicáveis às regras processuais policiais, penais e jurisdicionais,
mas constituem também forma grave de restrição à liberdade de expressão”,
afirma a AI.
As “fortes
restrições à liberdade de expressão, associação e manifestação”, os
“desaparecimentos forçados de opositores ao Governo”, os “desalojamentos
forçados” e a existência de “tortura e outros maus tratos perpetrados pelas
forças policiais” são outras das preocupações expressas pela AI referentes a
Angola... perdão, referentes à Guiné-Equatorial.
Não se tivesse
a certeza que a AI estava a falar da Guiné-Equatorial (formalmente é uma
democracia constitucional) e, com extrema facilidade, todos pensariam que
estaria a fazer o retrato do reino de José Eduardo dos Santos.
Por outro
lado, a AI destaca que “60 por cento” da população da Guiné-Equatorial vive
“abaixo do limiar da pobreza”, ou seja, com “menos de um dólar americano por
dia”, apesar dos “elevados níveis de crescimento económico do país, da elevada
produção de petróleo e de ser um dos países com o rendimento per capita mais
elevado do mundo”.
Tal como o
seu homólogo angolano, Teodoro Obiang quando fala de princípios democráticos
bate aos pontos, entre muitos outros, Jean-Bédel Bokassa, Idi Amin Dada, Mobutu
Sese Seko, Robert Mugabe ou Muammar Kadafi.
Atente-se,
contudo, no que diz o moçambicano Tomaz Salomão, secretário executivo da SADC
(Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral): "São ditadores, mas
pronto, paciência... são as pessoas que estão lá. E os critérios da liderança
da organização não obrigam à realização de eleições democráticas”.
2 comentários:
Lamento mas não concordo com esta análise tão redutora!
Quem está tantos anos - só mais um ou dois mesitos a mais que o grande líder - no Poder, e sem ser eleito nem contestado pelos grandes democracia ocidentais - como EUA e Portugal - só pode ser um grande democrata.
Logo, como líder incontestado - e viva o pitrólio - e criador do português na Guiné-Equatorial ele tem direito a exigir a entrada na grande e inolvidável CPLP!
Abraços
Eugénio C. Almeida!
Plenamente de acordo. Eu não diria (por muito que tentasse) melhor.
Um abraço meu Velho.
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