O presidente
da Câmara do Porto, Rui Rio, defende que as autarquias muito endividadas
deveriam ser geridas por uma comissão administrativa e não ter eleições.
Parece-me
uma boa ideia que, como é óbvio, não vai colher. Desde logo porque se fosse
aplicada poria muitos das autarquias geridas pelo PSD no, digamos, banco dos
réus. Além disso poderia fazer jurisprudência aplicável, por exemplo, a
ministérios, empresas públicas e restantes sucursais da manjedoura política.
Rui Rio
falava na Curia, distrito de Aveiro, como orador convidado da 2ª Universidade
do Poder Local, organizada pelo PSD Nacional, JSD Nacional e Grupo Europeu do
PSD (GEPSD), em que abordou questões relacionadas com os orçamentos municipais.
“Quando uma
câmara está excessivamente endividada, quem vier depois a ganhar eleições não
tem margem para tomar qualquer decisão política. As câmaras endividadas não
deviam ter eleições, mas sim uma comissão administrativa para a gestão
corrente, até estarem equilibradas”, defendeu o autarca do Porto, eventualmente
lembrando-se de Vila Nova de Gaia.
O presidente
da Câmara do Porto manifestou o seu apoio às medidas do Governo para forçar as
autarquias a terem uma gestão equilibrada, mas disse esperar que o PSD seja
coerente nas próximas eleições autárquicas e não recandidate autarcas que
fizeram má gestão.
Essa era
boa! Era sim, senhor! Esperar que o (actual) PSD seja coerente é mais ou menos como esperar que um
dia se prove que Miguel Relvas nunca conheceu Jorge Silva Carvalho. Aliás, não
é só uma questão de coerência mas, antes, de falta de honorabilidade política
dos jotinhas que tomaram de assalto o partido e o governo.
Ao
dirigir-se a quadros da JSD e possíveis candidatos, Rui Rio aconselhou equilíbrio
e seriedade na elaboração dos orçamentos municipais, que na maioria dos casos
“estão viciados há muito tempo” em Portugal.
Rui Rio
aconselhou os futuros autarcas a criarem “uma almofada” ou “conta-saco”,
colocando uma verba “bastante superior” numa rubrica de despesa, que depois
possa ser transferida para outras rubricas se algo correr mal.
O autarca
afirmou que é o que tem feito na Câmara do Porto e, mesmo assim, “é muito
difícil se, a meio do exercício orçamental, é retirado cinco por cento do IMI,
como o governo decidiu”.
Rui Rio diz
o que pensa e isso é a melhor forma de criar inimigos, dentro e fora do seu
partido, bem como na comunicação social. Ainda há pouco, mais exactamente no
dia 7 de Novembro de 2011, mostrou como é possível ultrapassar, tanto faz se é
pela esquerda ou pela direita, essa serôdia ideia do líder do PS de uma
“oposição violenta mas construtiva” e, também, as aldrabices do líder do seu
partido.
O presidente
da Câmara do Porto sugeriu substituir a eliminação dos subsídios de Natal e de
férias aos funcionários públicos e pensionistas por uma taxa equitativa que
abranja todos os trabalhadores.
"Entendo
que aquela norma de cortar subsídios de Natal e de férias só aos pensionistas e
funcionários públicos é uma medida extraordinariamente injusta. Penaliza só
alguns e ainda por cima os mesmos que, já este ano, levaram cortes que outros
não levaram", considerou Rui Rio, em declarações à Lusa.
Para o
autarca, "era bom que a Assembleia da República melhorasse o Orçamento de
Estado no sentido de pôr os pagamentos e sacrifícios de forma mais equitativa.
Da maneira que está, um funcionário público que ganhe 1000, 1300 euros por mês
vai levar um corte de mais de 14% no rendimento anual. Imagine alguém que ganha
10 mil, 20 mil euros mensais, que só por não trabalhar na função pública não
paga nada".
Ora aí está.
Mas, segundo Pedro Passos Coelho e os seus acólitos do governo, esses que não
pagam nada pertencem a uma casta superior que, como é óbvio, não se compadece
com benesses aos escravos do reino. Ao contrário do que prometera para ganhar
as eleições, o primeiro-ministro tem como único
objectivo instalar no país um regime esclavagista.
Admitindo
que "numa situação dificílima do país é evidente que não é possível fazer
um Orçamento que dê novidades positivas às pessoas" e que "não há
possibilidade nenhuma de as pessoas ficarem contentes com ele", sublinhou
que "há possibilidade de o fazer da forma mais justa e equitativa".
Ou seja, que
em vez de algumas comerem trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado
com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de
raiz de beterraba, queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e
outros apenas farelo ou uma sardinha dividida por três, todos pudessem ter pelo
menos um prato de arroz.
Rui Rio
alertou que "medidas nestes termos geram todo um rol de injustiças
horríveis, mesmo dentro da Função Pública, porque depois diz-se que dentro dela
o Banco de Portugal, a TAP e, eventualmente, a Caixa Geral de Depósitos não são
afectados".
"A
única forma justa, correcta e equitativa, diria mesmo prudente, de agir será
criar uma sobretaxa em que pagam todos um pouquinho. Em vez de poucos pagarem
tudo, esse tudo é dividido por toda a gente. E, sendo progressivo, quem ganha
mais paga mais. Parece-me lógico que quem ganhar 40 ou 50 mil euros deve pagar
um bocado mais do que quem ganha 1100 ou 1300", considerou.
Um milhão e
duzentos mil desempregados, 20% de pobres e outros 20% que querem agora usar
óculos porque não vêem nada nos pratos, também agradecem a tese de Rui Rio, mas
continuam a ver que o Governo não trabalha para os milhões que têm pouco ou
nada, mas apenas para os poucos que têm milhões, cada vez mais milhões.
Não se
esquecem (eu, pelo menos, espero que não se esqueçam) que Mário Soares tem de
reformas mais de 500 mil euros por ano; que Alberto João Jardim tem uma reforma
do Estado de 4.124 euros, obtida num serviço público onde nunca trabalhou
(Secretaria Regional de Turismo), recebe um ordenado por inteiro de 84 mil
euros, mais 40% de despesas de representação, o que dá 94.467 euros e que
Cavaco Silva recebe do Banco de Portugal 4.152 euros, da Universidade Nova de
Lisboa 2.328 euros e de primeiro-ministro 2.876 Euros.
Ou que
Manuel Alegre recebe um valor de 3.219,95 euros por ter trabalhado um ano RDP
num cargo que nem ele sabe qual era (1974/1975); que Santana Lopes obteve uma reforma de
primeiro-ministro após seis meses de trabalho, que acumulou depois com a
reforma de deputado; que Marques Mendes mal fez 50 anos de idade, tratou de
logo de requerer uma pensão de 2.905 euros.
Ou que
Freitas do Amaral, ao saber que lhe faltava pouco tempo para obter a reforma
vitalícia de deputado, desligou-se do CDS, mas não da Assembleia da Republica
enquanto não completou o tempo necessário para a obter; ou que Carlos Brito,
quando obteve a sua reforma, mandou "passear" o PCP, onde durante
décadas militou.
Mas há mais.
Fernando Rosas, dirigente do Bloco de Esquerda, quando atingiu os 8 anos
necessários para solicitar a sua reforma de deputado, mandou a Assembleia às
urtigas; Mira Amaral, antigo ministro de Cavaco Silva, depois de obter uma
reforma de deputado, em 21 meses obteve uma reforma da Caixa Geral de Depósitos
no valor de 18.000 euros mensais; Campos e Cunha, ministro das Finanças de José
Sócrates, após ter trabalhado 6 anos no Banco de Portugal, e com apenas 49
anos, obteve uma reforma de 114.784 euros.
Rui Rio também
sublinhou que o seu apelo "é à Assembleia da República toda, não é só à
maioria. É verdade que Governo e maioria têm mais responsabilidade, a proposta
é deles, mas não vi ainda PCP, BE, PS ou mesmo sindicatos a pedirem a
ponderação que estou a pedir".
"O
respeito pelas pessoas que trabalham e ganham pouco deve ser suficiente, não é
preciso falar da Constituição. A Assembleia tem todas as condições para, em
conjunto, sem tentar produzir manchetes de que o Governo recua ou anda para o
lado, mudar isto", afirmou Rui Rio.
Referindo-se
à "ideia recente do PS", Rui Rio considerou que "é melhor cortar
um [subsídio] do que dois, mas mesmo assim é possível agir de forma mais justa.
Cortar um subsídio equivale a pouco mais de 7% no rendimento anual. Pois que seja
2% a toda a gente".
1 comentário:
Uma ideia interessante, mas porquê só agora?
Os desígnios de um político são insondáveis para nós “burros de carga”.
Cá para mim, isto é só o ensaio para o «Voo do Condor».
Quanto ao resto estamos (eu e o Alto Hama) praticamente de acordo.
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