domingo, outubro 18, 2009

A Angola de uns e a Angola de quase todos

O Centro Empresarial “Comandante Gika” foi galardoado, hoje, com o prémio “melhor projecto imobiliário”, apresentado na 7ª edição da Feira Internacional de Construção, Obras Públicas e Materiais – Constrói Angola, em Luanda. Enquanto isso, ali mesmo ao lado, numa outra Angola, todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia. 70% da população passa fome.

Com sete categorias, a Constrói Angola, cujas portas encerraram esta noite, distinguiu também as instituições Easy Gás (do grupo Sonangol), como melhor empresa de prestação de serviços à Construção Civil, Alaturca (melhor empresa de materiais de construção), Odebrecht (construção civil), H4U melhor empresa de Construção Civil e MundiGruas (máquinas e equipamentos).

Muito bem. Mas, ali mesmo ao lado, numa outra Angola, todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia. 70% da população passa fome.

Na ocasião, um dos presidentes do Centro Gika, José Leitão, considerou natural a escolha da sua instituição para vencedor desta categoria, porquanto estão a construir o maior projecto imobiliário de Angola, iniciado há pelo menos um ano, cujos prazos de entrega do empreendimento está aprazado para Dezembro de 2010.

É isso. Mas antes de 2010, ou seja hoje, ali mesmo ao lado, numa outra Angola, todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia. 70% da população passa fome.

A Sociedade Afripron está a investir 600 milhões de dólares no Empreendimento Comandante Gika, o maior projecto imobiliário de Angola, com 390 mil metros quadrados de construção. O projecto contará com um centro empresarial e de negócios, concentrado no edifício Garden Towers, composto por duas torres, de 22 pisos, com 1600 lugares de estacionamento, onde está prevista a instalação de empresas angolanas dos sectores financeiro e de serviços.

Enquanto isso, ali mesmo ao lado, numa outra Angola, todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia. 70% da população passa fome.

O projecto comporta também um edifício residencial com 136 apartamentos T4, centro comercial “Luanda Shoping” e um hotel de cinco estrelas.

Entretanto, ali ao lado, nos musseques, existe uma outra Angola (actualmente o maior produtor de petróleo na África subsaariana) onde todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia. 70% da população passa fome.

Enquanto isso, 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. No “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, Angola está na posição 158.

Em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.

Em Angola, a corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres, entre 1997 a 2001, o país consagrou à educação uma média de 4,7% do seu orçamento, enquanto a média consagrada pela SADC foi de 16,7%.

Angola disponibiliza apenas 3 a 6% do seu orçamento para a saúde dos seus cidadãos. Este dinheiro não chega sequer para atender 20% da população, o que torna o Serviço Nacional de Saúde inoperante e presa fácil de interesses particulares.

Em Angola, 76% da população vive em 27% do território. Mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.

Em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

No caso dos investimentos angolanos em Portugal, estes são protagonizados por apenas duas entidades e em três empresas. Primeiro foi a entrada da Sonangol e de Isabel dos Santos, via Esperaza, na Amorim Energia, da qual controlam 45% do capital, ou seja, 15%, de forma indirecta, da Galp, avaliados em 1206 milhões de euros.

Depois, a petrolífera angolana começou a comprar acções do BCP, detendo já dez por cento e que, ao valor de cotação de 1 de Setembro, valiam 424 milhões de euros. Mais recentemente, Isabel dos Santos, através da Santoro, ficou com os 9,7 por cento do BPI que estavam nas mãos do BCP.

1 comentário:

Gil Gonçalves disse...

E fortalecem o terrorismo.
Agora estão maníacos com os prédios. Que mania lhes virá a seguir? Os prédios são prémios dos crimes nas noites altas, profundas como os cadáveres sem rosto. Tudo não passa de crimes e toda e qualquer acção praticada cai sempre, alça-se no crime. São tantos governos que nos ordenam: o palaciano e presidencial, o dos deputados, o dos ministros, o dos generais, o dos novos-ricos, o dos portugueses, brasileiros e chineses.

São de facto muitos governos. É que diariamente a parolice, já ninguém sabe o que são leis. É uma grande algaraviada, não é?! Na comemoração do seu aniversário o PR conviveu, enalteceu a miséria das populações do Panguila. O governo actua com a população como os governos ocidentais contra o terrorismo. O governo trata-nos como terroristas. Todas as empresas sem excepção fazem fugas ao fisco. O governo deixa-as em paz. Em contrapartida persegue as zungueiras. Atira-se à parte mais fraca. Finge que pune os que contrariam a lei.

Estes são os tempos mais violentos de que há memória. E eles, os tempos, continuarão, os governos apoiam, originam tão selvático estado de coisas que por pouco ficaremos inibidos de sairmos das nossas casas. Por enquanto ainda podemos andar em algumas ruas. Quase que não passamos de inúteis traumatizados. Apenas nos lamentamos e afora isso pouco ou nada mais fazemos. Não tomamos opções, estamos como que amarrados no tempo. Deixamos as coisas andarem. Tornámo-nos cobardes porque nos deixamos condenar, escravizar por qualquer governo ou governante de meia-tijela. Para gáudio dos ditadores e dos seus falsos valores.

Onde há muita miséria, muita fome, muita opressão, nasce muito terrorismo. Por tudo isto… o terrorismo internacional avança notável, imparável. Querem que lhes diga mais?! Magoa-me confessar mas, não existe outra saída. Vós sois os alimentadores. O terrorismo internacional vencê-los-á.

Intelectuais angolanos… desunivos!