Fernando Nobre, ex-candidato presidencial, será o cabeça-de-lista do PSD por Lisboa. E se o partido liderado por Pedro Passos Coelho vencer as próximas eleições, Nobre será candidato a presidente da Assembleia da República, a segunda figura do Estado.
A correr tudo como o PSD planeia, o regime angolano, ou seja o MPLA (colega do PS na Internacional Socialistas) contará com mais um amigo na mais alta hierarquia de Portugal.
“É evidente que hoje não passa pela cabeça de ninguém que Angola não vá de Cabinda ao Cunene. Assim ficou definido no momento da independência”, disse no dia 26 de Junho do ano passado Fernando Nobre, relegando para as calendas os legítimos direitos dos cabindas.
Ficou nessa altura claro que, também para Fernando Nobre, o que conta é a razão da força. Mesmo assim, os cabindas vão continuar a sua luta. Eles, como até há pouco Fernando Nobre, sabem que só é derrotado quem deixa de lutar.
Fernando Nobre deixou de lutar por esta causa. Foi derrotado. E, pela aragem, esta será apenas a primeira de muitas outras derrotas. Isto porque, na minha opinião, é cada vez menor a fronteira entre José Sócrates e Pedo Passos Coelho.
Essa de que Angola vai de Cabinda ao Cunene devido à independência não lembraria ao Diabo. Ainda quero ver o que dirá Fernando Nobre (seja como deputado do PSD ou presidente de Assembeia da República) quando, um dia destes, na altura em que a cobardia internacional, com Portugal à cabeça, deixar de ser moeda de troca com o petróleo, chegar a vez de Cabinda ter voz e direitos não como território ocupado, ou como colónia de Angola.
E eu continuo a pensar o mesmo que durante anos pensava Fernando Nobre. Ou seja, que desde há muito tempo que Cabinda não faz parte de Angola e que, por isso, deve ser um país independente.
Dir-me-ão alguns (presumo que agora também Fernando Nobre), sobretudo os que se julgam donos de uma verdade adquirida nos areópagos da baixa política angolana ou portuguesa, que isso é uma utopia.
Mais coisa menos coisa, são os mesmos que há umas dezenas de anos diziam o mesmo a propósito da independência de Angola, de Moçambique, da Guiné-Bissau, de Cabo Verde, de Timor-Leste.
São os mesmos que há pouco tempo diziam algo semelhante a propósito do Kosovo. São os mesmos que nesta altura dizem o mesmo quanto ao País Basco.
Mas, tal como se disse em relação a Angola e ao Kosovo, um dia destes estará por aqui alguém a falar da efectiva independência de Cabinda, por muito que isso custe às serôdias ideias de Fernando Nobre cidadão, deputado ou presidente do Parlamento português.
Até que esse dia chegue continuará a indiferença (comprada com o petróleo de Cabinda), seja de Portugal, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa ou até mesmo da comunidade internacional.
Portugal continua, como vem sendo hábito recente e agora também com o apoio de Fernando Nobre, de cócoras porque – com razão – teme que qualquer hostilidade em relação ao soba de Luanda possa fazer com que Angola retire a Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre Portugal.
E se isso acontecer será uma chatice.
É por isso que Cabinda nunca consta oficialmente da agenda de encontros oficiais entre o consórcio que lidera a OPA e as entidades que gerem Portugal, caso do Governo e do presidente da República.
Eu sei que, no contexto africano, Portugal é do ponto de vista prático uma carta fora do baralho. Cada vez mais o poder do MPLA entende que as autoridades portuguesas fazem tudo o que ele quiser. Até agora tem sido assim. Até conseguem que Anibal Cavaco Silva, enquanto presidente da República, quando fala de Angola sinta necessidade de esclarecer que o país vai de Cabinda ao Cunene, até conseguiram ter Fernando Nobre do seu lado.
Mas, como dizia o Mais Velho, ainda é a dor que nos faz andar, ainda é a angústia que nos faz correr, ainda são as lamúrias e as lamentações, que de vários cantos do país nos chegam, que nos fazem trabalhar; ainda é a razão dos mais fracos contra os mais fortes que nos faz marchar.
Pena é que Fernando Nobre tenha desistido dessa luta...
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