Quando em Portugal a televisão transmite jogos de futebol, mesmo que os estádios fiquem sem luz e a chuva inverta o seu trajecto, o que mais gosto de ver é as imagens dos ilustres protagonistas que, nos camorotes só reservados a gente importante, mostram como é que se agrada aos donos.
Há, com certeza, quem hoje volte a pensar, ou dizer, que “só os espíritos cretinos e obtusos pensam que receber um clube numa câmara é sinal de promiscuidade”.
Cada vez mais os camarotes dos estádios dos grandes clubes de futebol são os lugares onde se vêem mais políticos por metro quadrado. Fátima e o Fado perderam o seu encanto, mas o terceiro “F” continua pujante.
Tenho dúvidas que todos esses políticos sejam adeptos do futebol e muito menos do desporto, mas o que importa é estar ao lado de um campeão. E consoante muda o campeão mudam-se os panegíricos. Portugal é mesmo assim.
Quando algum político resolve separar o trigo do joio, ou seja o futebol da política, o Carmo e a Trinda ameaçam cair. Não caem mas nasce, e de que maneira, a sarna que põe esses políticos com enorme coceira.
Mas será que, mesmo com os portugueses sem saberem se ainda têm pescoço, vale a pena tentar moralizar o que não é passível de ser moralizado, como é a política e o futebol?
Não, não vale a pena. Olhem para os tais camarotes e ficam a perceber que a promiscuidade é de tal ordem que não se sabe quem é quem, quem representa o quê.
Aliás, como nos recorda a história, foi essa promiscuidade que fez com que o macaco acabasse por «comer» a mãe. Mas hoje nem isso é problema... desde que não se saiba.
De há muito que os portugueses se habituaram a ver os agentes da vida pública todos misturados numa orgia colectiva que, cada vez mais, mostra que a moralidade e a equidistância são valores pouco relevantes para um país que está acostumado a jogar no sistema de todos a monte e fé em Deus.
Para comprovar tudo isso nem é preciso apelar à memória (também ela um valor irrelevante na nossa sociedade), basta de facto – sobretudo em Lisboa e no Porto - olhar todas as semanas para as bancadas VIP dos estádios de futebol.
Políticos pigmeus e pigmeus políticos (entre outros) lá estão, a propósito de tudo e de nada, em bicos de pés para que todos os vejam.
Num país de aparências, que melhor montra poderá querer um qualquer político pigmeu ou um pigmeu político?
Dir-se-ia que, mais uma vez, não basta ser sério. Também é preciso parecê-lo. Mas, infelizmente, algumas das nossas figuras públicas nem são sérias nem parecem sê-lo. Nem estão, acrescente-se, preocupadas com isso.
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