quinta-feira, abril 14, 2011

Cesteiro que faz um cesto...

O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas de Portugal foi, não sei se alguém ainda se recorda disso, recebido em tempos (9 de Junho do ano passado) pelos grupos parlamentares do PS e do BE, na sequência do caso do deputado socialista Ricardo Rodrigues, filmado a furtar (ele chamou-lhe “tomar posse”) dois gravadores a jornalistas da revista Sábado.

O pedido de audiências aos partidos políticos com assento parlamentar surgiu depois de as comissões de Ética e de Assuntos Constitucionais não ter dado resposta a um requerimento do Conselho Deontológico, alegando não terem competência para apreciar a questão.

Para quem não sabe, não quer saber ou é do Partido Socialista, liderado pelo (im)poluto paladino da liberdade de imprensa, José Sócrates, recorde-se tantas vezes quantas for preciso, o que se passou há quase um ano (30 de Abril).

O vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Ricardo Rodrigues, ficou (meteu ao bolso, furtou, roubou) com dois gravadores dos jornalistas da revista Sábado durante uma entrevista.

Questionado sobre as suas ligações a um antigo processo de burla nos Açores e a casos de pedofilia, o deputado terminou bruscamente a entrevista e levou os dois gravadores consigo.

Foi, mais uma vez, o Portugal socialista no seu melhor! Ou, citando o primeiro-ministro do reino, José Sócrates, mais uma demonstração inequívoca de que em Portugal não há falta de liberdade... para afanar os gravadores dos jornalistas.

Ricardo Rodrigues, vice-presidente da bancada do PS (de que outro partido poderia ser?), explicou que “tomou posse”, de forma “irreflectida”, de dois gravadores da revista Sábado, durante uma entrevista, porque foi exercida sobre ele uma “violência psicológica insuportável”.

Ora aí está. A partir de então a criminalidade em Portugal nunca mais foi a mesma. Os carteirista, por exemplo, quando são apanhados defendem-se dizendo que apenas “tomaram posse”, de forma “irreflectida”, da carteira da vítima.

Numa declaração sem direito a perguntas dos jornalistas (que pelo sim e pelo não mantiveram os gravadores a uma distância segura, não fosse haver mais alguma “irreflectida tomada de posse”), o deputado Ricardo Rodrigues anunciou, quando o caso se tornou público, que apresentou no Tribunal Cível de Lisboa uma providência cautelar contra a revista Sábado e dois jornalistas da mesma publicação.

A entrevista, realizada a 30 de Abril, acabou por ser interrompida por Ricardo Rodrigues, que, antes de abandonar a sala, furtou (ou, segundo a terminologia socialista, “tomou posse”) os dois gravadores digitais dos jornalistas.

Na Assembleia da República, o deputado socialista, acompanhado pelo líder parlamentar, Francisco Assis, e por um outro membro da direcção do grupo, Sérgio Sousa Pinto, justificou a sua “tomada de posse” (não como deputado mas como tomador de posse de gravadores alheios) pelo “tom inaceitavelmente persecutório” das perguntas e pelos “temas e factos suscitados, falsos e mesmo injuriosos”. Em causa, apontou, estavam perguntas relacionadas com a sua “alegada cumplicidade” com clientes que “patrocinou” enquanto advogado e que “foram condenados relativamente a factos de 1997”.

E ainda “injúrias e difamações que estão a ser julgadas no Tribunal de Oeiras”, em que são réus a SIC, a SIC/Notícias e o jornalista Estevão Gago da Câmara.

“Porque a pressão exercida sobre mim constituiu uma violência psicológica insuportável, porque não vislumbrei outra alternativa para preservar o meu bom nome, exerci acção directa e, irreflectidamente, tomei posse de dois equipamentos de gravação digital, os quais hoje são documentos apensos à providência cautelar”, justificou.

E é graças também a esta original forma de “tomar posse” do que é dos outros, que Portugal, desceu um monte de lugares no “rating" da liberdade de Imprensa.

E não tardará muito que o Portugal socialista adopte as mesmas regras da Guiné Equatorial, país que ensinou o que é a liberdade de Imprensa mandando quatro meses para a choldra o único correspondente estrangeiro que por lá andava.

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