José Sócrates tocou o sino a rebate e os socialistas responderam ao apelo, mesmo que para isso alguns tenham deixado a coluna vertebral em casa.
O secretário-geral do PS e primeiro-ministro (embora demitido) engoliu em seco e anunciou hoje, em Matosinhos, que Ferro Rodrigues será cabeça-de-lista por Lisboa.
Não sei quem teve de engolir o sapo maior, mas ambos enfiaram pela garganta o batráquio anuro.
E se calhar, sob o manto diáfano de uma suposta unidade, vamos ver situações similares com António José Seguro, Ana Benavente, José Maria Carrilho, Henrique Neto ou – quem sabe – António Barreto.
De uma só cajadada, José Sócrates parte e espinha a todos aqueles que, eventualmente, pensem em retirar-lhe o poder nos próximos 30 anos. Evita, por isso, que alguns dos seus mais próximos colaboradores falem da sua sucessão.
Outros há – e até estão neste congresso – que falam sem que se ouça. Mais, muitos mais, são aqueles que pensam mas não falam.
Alguém se recorda o que disse, em Janeiro de 2008, à Visão, o ex-secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues? Os socialistas certamente dizem (é isso que o chefe manda fazer) que não se recordam.
Pois bem, Ferro Rodrigues disse que o Governo português (do PS/José Sócrates) deveria ter “menos arrogância e mais humildade”.
Pois! Isso foi na altura em que ainda a medicina não tinha descoberto aquela miraculosa cirurgia que permite ter coluna vertebral amovível.
José Sócrates, agora acompanhado por alguns socialistas reeducados, continua a julgar que é uma solução para o problema quando, de facto, é um problema para a solução. Está no seu direito, tanto mais que tem capacidades divinas que o tornam (basta ouvi-lo) no maior dos peritos lusos em todas as matérias.
É claro que, de quando em vez, lá aparecem algumas vozes dissonantes. Dissonantes até, pelo menos, lhes ser gantido um techo qualquer.
Por alguma razão Ana Gomes, João Cravinho ou Vera Jardim até falaram das escutas do processo Face Oculpa, e – pasme-se! - o próprio António Costa já disse que o PS tem "boas soluções" no que toca à sucessão a José Sócrates.
Ana Gomes chegou ao ponto de escrever que é "o Estado de direito democrático que pode estar em causa", recusando-se a "varrer para debaixo do tapete as questões que tais escutas suscitam".
"Se por qualquer hipótese [José Sócrates] deixar de o ser, o PS tem no Governo e na Assembleia da República boas soluções que asseguram a continuidade institucional do seu mandato," afirmou ao jornal i o actual presidente da Câmara de Lisboa.
Por sua vez, João Cravinho diz que o Governo tem de "provar e convencer os portugueses de que as suspeitas que estão a transformar o País num pântano não têm razão de ser" e o deputado Vera Jardim considera que "é urgente que se faça luz sobre isto” porque “este clima não é sustentável."
Não há, contudo, nada que um lugar nas listas de deputados não resolva...
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