Enquanto candidato presidencial português, Cavaco Silva, disse que se sentia “provedor dos portugueses” e que as críticas que lhe foram feitas pelo líder parlamentar do PS, Francisco Assis, não merecem “a mínima resposta”.
Francisco Assis considerou no dia 12 de Janeiro, em Lisboa, que Cavaco Silva estava a adoptar na sua campanha "uma linha de orientação que não privilegia a manutenção de um clima de estabilidade institucional".
"O país não precisa de um Presidente da República transformado num provedor universal de todos os descontentamentos, nem tão pouco de um Presidente da República erigido no papel de contra-peso da acção do Governo legítimo do país", criticou Assis.
Não sei porquê, mas até estou tentado a pensar, a continuar a pensar (e esta coisa de pensar só complica), que se os políticos portugueses fossem sérios e honestos (eu sei que é uma utopia, aqui e ali tornada realidade por raras excepções) se calhar o país não teria 700 mil desempregados, 20% de pobres e outros tantos com os pratos vazios.
Recordo-me, por exemplo, que o Presidente da República, o mesmo (ou aproximado) Cavaco Silva, admitiu no final de 2008 que 2009 "iria ser um ano muito difícil" e avisou o Governo que "a verdade é essencial", considerando que "as ilusões pagam-se caras".
Chega-se a 2010 e a história repetiu-se. Chega-se a 2011 o disco toca o mesmo, certamente na senda de uma estratégia de aproximação de Portugal aos países mais desenvolvidos do norte de... África.
Mas difícil para quem? Não é preciso dizer. Nós sabemos. Para os milhões que têm cada vez menos e não, é claro, para os poucos que têm cada vez mais milhões.
"A verdade é essencial". Qual verdade? A verdade do primeiro-ministro, a única possível já que ele é o dono dela, ou a dos portugueses de segunda, a franca e esmagadora maioria?
"As ilusões pagam-se caras". Pois pagam. Mas, afinal, quem é responsável por essas ilusões? Os 700 mil desempregados? Os 40% de portugueses que todos os dias olham para os pratos e sonham com comida?
Na sua mensagem de Ano Novo (2009, recorde-se), Cavaco Silva afirmou não poder esconder a "verdade da situação difícil em que o país se encontra" e que o caminho para "Portugal sair da quase estagnação económica" é "estreito, mas existe".
Que, a existir, a saída é estreita, que a saída nunca foi larga, todos sabemos. Não venham, contudo, atirar areia à nossa chipala, dizendo que a saída é ainda mais estreita do que realmente é.
Aliás, se para a maioria dos portugueses de segunda é estreita, para os de primeira é uma monumental autoestrada.
O antigo primeiro-ministro durante dez anos (o mesmo, ou aproximado, Cavaco Silva) fez nessa mesma altura outros alertas, caso da necessidade de "reduzir a ineficiência e a dependência do exterior em matéria de energia" ou de "rigor e eficiência na utilização dos dinheiros públicos”.
Chegados a 2010, 2011 e por aí fora todos vão concluir que Cavaco Silva sabe o que diz mas, é claro, não diz (tudo) o que sabe.
Rigor e eficiência num país que substituiu o primado da competência pelo da subserviência? Rigor e eficiência num país que não tem dúvidas em escolher um néscio só porque tem um cartão do partido que está no poder?
Na sua mensagem, Cavaco Silva confessou não dever esconder que 2009 iria “ser um ano muito difícil", e afirmou recear o "agravamento do desemprego e o aumento do risco de pobreza e exclusão social" e admitiu que "a crise financeira internacional apanhou a economia portuguesa com algumas vulnerabilidades sérias".
Chega-se a 2010 e a história repete-se. Chega-se a 2011 o disco toca o mesmo, certamente na sendo de uma estratégia de aproximação de Portugal aos países mais desenvolvidos do norte de... África.
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