Nem o salão vazio do congresso do PS (os donos do partido tinham mais o que fazer) impediu a eurodeputada Ana Gomes de dizer o que pensa.
Ana Gomes disse, afinal, o que todos os socialistas que ainda conseguem pensar com a própria cabeça sabem. A diferença está que para o dono do partido, José Sócrates, só os que pensam como ele é que merecem alguma coisa.
Por alguma razão os socialistas que discursaram em Matosinhos apenas disseram com outras palavras o que o chefe já tinha dito. Foi, no que os acólitos de Sócrates chamam de unanimidade e coesão, apenas um exercício de ventriloquia.
Ana Gomes disse que na governação socialista "nem tudo foram rosas", defenedendo que para continuar a merecer a confiança dos portugueses o PS não precisa de "unanimismos", mas de "empenhamento crítico".
Dizer tal coisa é, no âmbito do PS (Partido de Sócrates), um crime muito grave, desde logo porque põe em causa a capacidade divina do chefe e o estatuto de submissão acéfala e invertebrada que enquadra todos os seus vassalos.
Ana Gomes deveria saber isso. Tal como deveria saber que este PS prefere ser assassinado pelo elogio patético do que salvo pela crítica.
"Para continuar a merecer a confiança dos portugueses é preciso que o PS assuma que nem tudo foram rosas na governação e que nem sempre a rosa cheirou muito bem. O PS também cometeu erros e assumi-los será meio caminho andado para os corrigirmos", defendeu Ana Gomes.
Ainda bem, para ela, que o sumo pontífice e os seus apaniguados não estavam no congresso. Então a rosa nem sempre cheirou bem? Então o PS também comete erros? Onde é que Ana Gomes cheirou ou viu tais coisas?
De facto, segundo o perito dos peritos socialistas e líder carismático, as rosas passaram obrigatoriamente a cheirar todas bem desde que ele chegou à liderança, e que se saiba também desde essa altura nunca mais o PS cometeu qualquer erro.
Para a eurodeputada, a nacionalização dos "ossos" do BPN "sem nacionalizar as empresas lucrativas do grupo SLN" e o "desvio e desperdício de dinheiros do Estado em consultadorias, 'outsorcing' e corrupção em várias empresas públicas", são alguns dos erros da governação socialista.
Ora, ora! Ana Gomes está a ver o filme ao contrário. Tudo o que aponta como erros da governação socialista são, afinal, a imagem de marca dos governos de José Sócrates.
Ana Gomes, que provavelmente julgou que estava a falar para congressistas de um partido livre e democrático, falou dos caminhos a seguir, referindo "transparência e justiça na distribuição dos sacrifícios", a começar por bancos e transacções financeiras que "não podem continuar a ser escandalosamente privilegiadas na fiscalidade", bem como a renegociação das parcerias público-privadas".
Que grande puxão de orelhas Ana Gomes vai levar do dono do PS. Ela deveria lembrar-se do que em tempos António Barreto disse a propósito de José Sócrates: “não tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que organizou com as suas poderosas agências de intoxicação a que chama de comunicação”.
Ou ainda de que “o primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas”.
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