domingo, setembro 06, 2009

A crise (que crise?) na comunicação social

Com ou sem Alta Autoridade para a Comunicação Social, com ou sem Entidade Reguladora para a Comunicação Social, com ou sem Autoridade da Concorrência, de há muito que os diferentes governos de Portugal estavam alertados para o que ia acontecer. Todos se venderam por um prato de lentilhas.

Recupero mais uma vez e tantas quantas for necessário, um texto que publiquei sobre este assunto no dia 28 de Novembro de... 2001:

A crise, seja ela qual for, exista ou não, é sempre uma solução para os problemas que afectam a Comunicação Social portuguesa e que, muitas vezes, resultam apenas de um simples factor - a incompetência.

Porque o primado da competência não é fundamental, as empresas apostam tudo na procura de problemas para a solução, de modo a que as suas linhas de enchimento trabalhem apenas para os poucos que têm milhões e não, como seria de esperar, para os milhões que têm pouco.

Assim sendo, a crise é um remédio que dá para tudo, que se utiliza quando dá jeito e que, infelizmente, serve quase sempre para manter no poleiro os «filhos», mesmo que estes para contar até 12 tenham de se descalçar.

A fazer fé nos políticos da nossa economia (não tanto nos economistas da nossa política), a Comunicação Social portuguesa está em crise, sobretudo graças a um retraimento (duvidoso) do investimento publicitário.

Solução? Contenção dos custos.

É sempre assim. Não encontram (nem querem encontrar) a estrada da Beira e o mais simples é ficarem na beira da estrada.

E como se faz a contenção? Reduzindo o número de trabalhadores.

Quando será que alguém se preocupará em ultrapassar (se calhar até mesmo em evitar que ela chegue) a crise aumentando a produtividade dos trabalhadores e não despedindo-os?

Quem manda não pensa nisso. É claro que não. São pagos para executar e não para pensar. Como são pagos para multiplicar cifrões, custe o que custar, escolhem a solução mais imediata - diminuir custos/despedir pessoal.

Poderiam fazer melhor. Muito melhor. Ou seja, investir nas ideias e na capacidade, aumentando necessariamente a produtividade.

Mas isso é complicado num país que só sabe fazer o possível e que anda a reboque dos que lideram graças ao facto de, muitas vezes, transformarem o impossível em possível.

Na fase actual, quatro anos depois do que acabei de citar, o Governo de José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço fazer de grande parte da “imprensa o tapete do poder”.

O Governo de José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço transformar jornalistas em “criados de luxo do poder vigente".

O Governo de José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço convencer os mais cépticos de que mais vale ser um propagandista da banha da cobra do PS, mas de barriga cheia, do que um ilustre Jornalista com ela vazia.

O Governo de José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço convencer os jornalistas que devem pensar apenas com a cabeça... do chefe (socialista, obviamente).

O Governo de José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço mostrar aos Jornalistas que ter um cartão do PS é mais do que meio caminho andado para ser chefe, director ou até administrador.

Apesar disso, mesmo no desemprego, continuo a estar ao lado dos que consideram que dizer o que pensamos ser a verdade é a melhor qualidade das pessoas de bem em geral, e dos Jornalistas em particular.

Pessoas de bem onde, para meu penar, é cada vez mais difícil incluir os Jornalistas. Alguns, é óbvio.

E o que em tempos era um trunfo (a memória) hoje é algo supérfluo. E se calhar não há nada a fazer. Para quê ter memória se, sem ela, os autómatos fazem o que é exigido ao jornalismo(?) moderno?

Vem isto a (des)propósito das teses vigentes um pouco por todo o lado, nomeadamente nos areópagos da política portuguesa, que apontam para a necessidade de os jornalistas serem formatados consoante os interesses (económicos, políticos e similares) dos donos do Poder.

Se calhar, como me dizem ex-jornalistas que hoje são assessores, directores, administradores etc., o melhor era aceitar a derrota e na impossibilidade de os vencer, juntar-me a eles.

Seria com certeza uma boa opção. Não estaria certamente no desemprego. O mal está, digo eu, que só é derrotado quem deixa de lutar. E, pelo menos para já, tenho mesmo de afirmar que a luta continua.

E continua porque, ao contrário dos donos do poder, continuo a lutar pra que a imprensa não seja o tapete do poder, tenha ele as cores ou a denominação social que tiver.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que lhe posso eu dizer senão que tem toda a razão?! e viva os lambe botas dos répteis! E siga pra bingo, a gozar com a idoneidade das pessoas