O comandante da V Divisão das Forças Armadas Angolanas (FAA), estacionada na Região Militar Sul, tenente-general António Valeriano, disse em Menongue, que a guerra, de mais de três décadas, foi injustamente imposta à população angolana pelo regime racista sul-africano de então.
Embora não seja totalmente assim, continuemos a ver como António Valeriano pretende reescrever a história.
"Esta postura visava a manutenção do status quo ocupacionista do território namibiano, retardando a independência do país, ao mesmo tempo que se perpetuava o regime de Apartheid na África do Sul, pois Angola assumira-se como trincheira a favor dos povos subjugados, tão logo adquiriu a sua soberania", argumentou o oficial-general.
António Valeriano explicou que no universo das grandes batalhas, a ocorrida no martirizado município do Kuito Kuanavale, em 1988, constituiu pedra de toque para a derrota do invasor, cuja estratégia visava o derrube da autoridade legalmente instituida, após 11 de Novembro de 1975, com a proclamação da Independência Nacional.
Esta da autoridade legalmente instituída deveria ter suporte, digo eu, nos Acordos do Alvor. Não foi assim. Mas também o que é que isso importa se o poder foi dado por Portugal ao MPLA, esquecendo que a FNLA e a UNITA também lá estavam?
Para António Valeriano, o exército governamental, no direito e obrigação constitucionalmente atribuídos, concentraram esforços na defesa da soberania e integraidade da pátria e, naquela parcela do território nacional, infligiu baixas consideráveis ao invasor.
Falar de exército governamental quando se tratava das FAPLA, braço armado do MPLA, e de militares estrangeiros, entre os quais russos, cubanos, portugueses e brasileiros, parece algo desonesto, pelo menos do ponto de vista intelectual.
"Foi a bravura, heroicidade e sentido patriótico dos angolanos que vergou os racistas sul-africanos, levando-os a assinar o acordo de de Nova Iorque, juntamente com Angola e Cuba, aos 22 de Dezembro de 1988", recordou, acrescentado que se pode então encetar "a descolonização da Namíbia, a abolição do Apartheid na África do Sul e, consequentemente, a regularização política total da região Austral do continente".
Heroicidade dos angolanos? Para começar, havia angolanos de um do outro lado da barricada. Além disso, os angolanos das FAPLA foram apenas carne para os canhões utilizados por cubanos, russos e outros que tais.
Ao contrário do que diz António Valeriano, a batalha do Kuito Kuanavale foi um rotundo fracasso para o MPLA/governo, por muito que digam o contrário.
Os objectivos do avanço dos exércitos da coligação FAPLA, sobretudo mas não só russos e cubanos, eram desalojar a UNITA da mítica Jamba e empurrar os sul-africanos que encontrassem para a Namíbia ou mesmo para além da Namíbia.
Algum desses objectivos foi alcançado? A UNITA foi derrotada e expulsa da Jamba? Os sul-africanos que a apoiavam foram empurrados para a Namíbia? A resposta é não, não e não.
E quais foram as consequências desta tão violenta batalha?
Os cubanos retiraram de Angola, a África do Sul saiu da Namíbia e esta obteve a sua independência mas nas condições ditadas pelos sul-africanos (nenhum dos interesses económicos da África do Sul na Namíbia foram tocados, a Namíbia continuou dentro do sistema aduaneiro sul-africano, o porto de Walbis Bay continuou administrado pela África do Sul).
E quanto a Angola, quais foram os resultados da famosa batalha?
Primeiro o MPLA aceitou negociar com a UNITA, o que até aí tinha recusado, pelo meio ainda tentou de novo chegar à Jamba (operação que foi chamada "Último assalto" onde foi derrotado de novo), depois foi obrigado a admitir o pluripartidarismo e eleições, o que a UNITA pedia desde 1975.
Em resumo o MPLA/governo angolano não atingiu nenhum dos objectivos e pelo contrário teve de aceitar as condições impostas pelos adversários no terreno.
O MPLA tentra transformar pela propaganda uma derrota em vitória visando três objectivos:
Tentar reescrever e mascarar a História, operação a que o MPLA/governo angolano recorre frequentemente, como ultimamente se tem provado.
Provocar a UNITA/oposição angolana, porque a uma ditadura dá sempre jeito que haja reacção violenta.
Dar, como já acontece, uma mãozinha ao Presidente do ANC, Jacob Zuma, que necessita de se agarrar a este tipo de populismo, e do dinheiro do petróleo angolano, para se manter na Presidência da África do Sul.
Foto: Helicóptero russo capturado na batalha de Kuito Kuanavale e usado pelas FALA (UNITA)
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