Nova Lisboa, hoje Huambo, comemora no próximo dia 21 o dia da cidade, embora tenha nascido a 12 de Agosto de 1912, por decisão do Alto Comissário da República Portuguesa, general Norton de Matos. Eu só lá “cheguei” 42 anos depois...
Acabava de chegar ao lugar o que seria o grande impulsor do progresso da região, o Caminho de Ferro de Benguela. Para celebrar o acontecimento, o general deslocou-se ao Huambo a fim de anunciar, pessoalmente, “in loco”, a fundação da nova cidade.
Ele mesmo, de pé, sobre a tarimba montada frente ao barracão pomposamente designado gare ferroviária, leu o auto fundacional, na presença dos primeiros habitantes europeus da cidade, dois homens e uma mulher.
Logo a seguir e ali mesmo, o Alto Comissário lhes entregou, em mão, o rascunho da planta da nova urbe, traçado pelo seu próprio punho. Dados geográficos, orográficos e hidrográficos de notavel precisão documentavam o projecto.
A cidade seria implantada a sul da ferrovia, alcandorada sobre a linha divisória de águas da região. Não registava nenhum povoado nesse lugar e apenas dava conta da existência de uma incipiente mina de diamantes.
As sanzalas importantes, pertencentes ao forte sobado do Huambo, estavam anotadas e dispersas pelos arredores. Havia a embala do soba grande da Kissala, a duas léguas a ocidente, a do sobeta Sanjepele, três léguas ao norte e a do Sumi, a umas cinco léguas a sul.
E, 34 anos depois de ter deixado a minha cidade, continuo sem saber como é que se explica a quem não conhece Angola, a quem não conhece o Huambo, a razão porque preciso dela todos os dias, sinto-a todos os dias, amo-a todos os dias, chamo-a para junto de mim todos os dias? Não se explica.
Por alguma razão, já lá vão os tais 34, Jonas Savimbi me disse que Angola não se define – sente-se. Mas será possível a quem não conhece, sentir algo que, afinal, muitos dos que conheceram não sentem?
No coração, muitos dos poucos que me conhecem, já começam a sentir… de tanto me ouvirem falar da melhor terra do mundo.
Este é, para mim, um exemplo que contraria o provérbio “longe da vista, longe do coração”. De olhos fechados vejo Angola e, por isso, ela não está longe do coração. Angola é o meu próprio coração, por muito que isso custe a quem não compreende que sentir é a melhor forma de ser digno.
Não sei se alguma vez poderei levar os meus filhos, e os filhos dos meus filhos, aos recantos e esquinas da minha cidade, de modo a deixá-los respirar o horizonte que cheira a infinito. Creio que seria a melhor forma de, sem palavras, explicar tudo. Explicar porque, nas madrugadas embevecidas pelo silêncio da pequenez portuguesa, respiro o choro de uma dor crónica.
Um dia, com ou sem o pai ou avô, eles acabarão por conhecer a minha (e também deles) terra. E nessa altura, mesmo sem saberem o sítio exacto onde deixei o cordão umbilical, vão respirar o silêncio, beber o infinito e dormir embalados pela certeza de que, afinal, o pai tinha razão quando chorava de saudade.
Terão, certamente nessa altura, uma lágrima no canto do olho. Uma lágrima que ao cair na terra quente de Angola fará nascer uma flor. Uma flor sem nome, uma daqueles flores que só alguns vêem, que só alguns sentem.
Nota: A Zon continua a pensar que o Porto fica no Burkina Faso e se eu quiser, embora pagando as facturas, ter acesso à Net tenho de ir procurar noutro lugar. Até um dias destes...
Sem comentários:
Enviar um comentário