Embora exista (ainda bem) a presunção de inocência, é um facto que a todos, mas sobretudo aos que dirigem o país, não basta ser sério. Além disso, somando os casos mais recentes (Freeport, Portucale, BPN, BCP, BPP, escutas etc.), verifica-se que existe uma classe (mistura de políticos com gestores e financeiros) que é dona do país. E, pelos resultados eleitorais de hoje, assim vai continuar a bem, como dia António de Oliveira Salazar, da Nação.
Pelos exemplos recentes, num país que quer (ou é obrigado) a levar ao extremo a máxima dos brandos costumes ou aquela que diz que quanto mais me bates mais gosto de ti, quase se pode concluir que Portugal se transformou apenas num local muito mal frequentado, com múltiplos canais que abastecem um perigoso e gangrenado submundo.
Aliás, bastam alguns tópicos para se concluir que as diferenças entre Portugal e o Burkina Faso são poucas. As "off-shores" e o endeusamento do segredo bancário são um instrumento que alguns dispõem para cometer crimes e passarem ao lado da justiça.
Os mais recentes casos, mesmo que o primeiro-ministro os tenha rotulado de "campanha negra", mostram tanta promiscuidade entre o dinheiro e a política que não é difícil concluir que Portugal teima em viver com pelo menos um pé do outro lado da legalidade democrática e das regras de um Estado de Direito.
E assim vai continuar. Há quem goste de comer e calar.
É por isso que os actores deste drama, sobretudo políticos e financeiros, se apresentam (e assim é na realidade) como uma elite que defende apenas os seus interesses, que em vez de servir o país se serve dele. Nada que incomode os portugueses.
Paradigma de tudo isto, mau grado aparecerem na ribalta sonantes nomes da política e das finanças, é o facto de quase 100% das pessoas que estão nas cadeias portugueses serem pobres.
Não é bem assim? Ai não, não é. Recordam-se de uma mulher que furtou um pó de arroz num supermecado? Foi detida e julgada. No entanto, roubar (desviar, afanar, furtar, ximunar) centenas de milhões de euros de um banco poderá, ou não, ser crime.
É claro que do ponto de vista académico, como diz o Procurador-Geral da República, "ninguém está acima da lei". Se calhar não é bem assim. Até porque o pilha-galinhas não é Conselheiro de Estado nem primeiro-ministro e, por isso, não tem a imunidade que lhe garanta a impunidade.
É por tudo isto que a corrupção vai somando crescentes pontos em Portugal. Nada que incomode os portugueses, tanto quanto se pode concluir dos resultados de hoje.
Creio que a mais grave por ser mortal para o país é "a corrupção política", a que (vejam-se os casos Freeport ou Portucale) envolve as grandes empreitadas do Estado ou a compra de muitos milhões de euros em equipamentos.
Será então culpa do sistema judicial? Não. Desde logo porque o sistema judicial (também) é amamentado pelo seu congénere político, e este é o que põe e dispõe.
Creio, contudo, que Portugal ainda pode ter cura. No entanto, se demorar muito a ser ministrada a necessária medicação radical, um dia destes chegaremos à conclusão que na altura em que Portugal estava quase a saber viver como um país digno... morreu.
Se calhar, embora isso nada incomode (a fazer fé nestes resultados) os portugueses, parte da certidão de óbito já foi hoje preenchida.
2 comentários:
Bingo!
amanhã começam as carpideiras, de novo, aquelas mesmas, que ajudaram a preencher a certidão de óbito.
No meio disto tudo, é que, quem tem razão, ou são os mais informados e não se venderam, ou então aquelas minorias que apanham de chofre, com os corruptos em cima. Esses sentem bem na pele...
E lá está, enquanto houver que comer, o povo come e cala!
Pensar?! dá muito trabalho.
Deixe que tudo se esgote, que não há-de tardar muito... para as grandes maiorias... e eu quero ver.
Abraço
Ó Orlando, o gajo fez um pacto com o Balsemão para desinformar, tem caminho aberto, enquanto quiser... Os que não são ignorantes, ou seja a minoria, tem tacho! Por isso os do PS, ou nada sabem, ou têm tacho...
Impera o oportunismo e a ignrancia.
Sabe que o magalhães foi o grande engodo para os ignorantes... ficaram todos contentes!...
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